Ainda que eu compreenda as razões sociais e políticas por trás da frustração destes jovens, nada justifica a violência sem freios que mutilou Londres e outras cidades da Inglaterra (a confusão se espalhou para Bristol, Liverpool, Birmingham, Leeds e Nottingham ontem). Policiais reportaram ver mães com crianças entrando em lojas e usando seus filhos para carregar os produtos roubados, e muitos dos jovens envolvidos nem sabem qual partido político está no poder no país – eles viram uma oportunidade de ter um Xbox, o último modelo de tênis ou uma TV de 42 polegadas e aproveitaram a sua chance. Os seis mil policiais que patrulhavam as ruas da cidade ontem à noite não tinham equipamento ou preparo para lidar com a bagunça, e na maioria dos casos havia entre cinco e dez arruaceiros pra cada policial.
Para Smith, falta educação, disciplina e valores, o que faz com que as crianças não entendam quando estão indo muito longe e ultrapassam os limites. Mas enfatiza que a questão não é racial, embora Mark Duggan fosse negro e há suspeita de que tenha sido assassinato por preconceito.
Ele diz que o problema vem de uma ou duas décadas atrás e reside na diferença de classes, muito marcada na Inglaterra, e incentivada pela mídia. “A TV, a música, tudo influencia para fazer de você quem você é. A TV diz o que você tem que vestir. As crianças querem roupas legais, tênis, celulares. E quando elas não têm as coisas elas ficam frustradas.
Estou na faixa dos 30 e sou policial há 15 anos, mais recentemente à paisana, fazendo vigilância. Servi como soldado no Iraque. Pensei que tinha visto tudo que teria que ver na minha carreira. Mas nada me preparou para o que experimentei na linha de frente nesta semana. Vi pela última vez saques no Iraque, na queda de Saddam Hussein – mas agora, inimaginável, isso estava acontecendo nas ruas de Londres e de outras cidades do Reino Unido.
Talvez a visão mais chocante foi a de crianças de 10 e 11 anos atacando policiais. Uma delas gritou, olhando para mim: “Matem os tiras!” Entendo a raiva que provocou o protesto pacífico da família Mark Duggan – o homem cuja morte em Tottenham foi o estopim dos tumultos. Mas fiquei chocado com a maneira como se propagaram os protestos.O que dizer, por exemplo, das pessoas carregando em vans bens saqueados como celulares e televisores de tela plana?.E a imagem mais inexplicável da semana? Ver pessoas que transportavam mercadorias roubadas de uma loja em que tudo custa uma libra. É difícil acreditar que esses saques foram motivados pela pobreza. A maioria das pessoas, afinal, pode pagar uma libra.
Meu maior medo nas ruas de Tottenham foi que um dos oficiais sob o meu comando fosse ferido. No domingo, experimentei o desgosto de coibir um pequeno comerciante que tentava salvar seu estoque de um prédio em chamas. Tirei meu capacete para ouvi-lo melhor. Ele soluçou quando me contou como havia construído o seu negócio. Disse que agora não sabia o que fazer. Eu simplesmente não sabia o que dizer a ele. Fiz algo que repetiria muito nas próximas horas: pedi desculpa.
Mil pessoas já foram presas em Londres. Não eram apenas pobres, desfavorecidos, jovens desiludidos. Pessoas com bons empregos se envolveram nos saques. Elas observaram os saqueadores e simplesmente aderiraram. É uma desgraça. Vi muitos folhetos distribuídos por advogados que estão orientando as pessoas sobre o que fazer caso sejam presas. ”Não cooperar com a polícia” é a mensagem. Um folheto oferecia conselhos sobre como se livrar de bens roubados e de como alterar a aparência caso a pessoa tenha sido pilhada por câmeras de segurança.
Ainda existem desordeiros e saqueadores livres por aí.O que eu diria a eles? É simples. Nós vamos cuidar que se faça justiça. Temam cada batida na porta. Empacotem suas escovas de dentes – nós estamos indo apanhar vocês.
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