quinta-feira, 18 de agosto de 2011

London Calling

London calling to the faraway towns
Now that the war is declared and battle come down

Há tempo eu não fazia isso, mas vamos tentar resumir o que se tem sobre os tumultos londrinos:




Tudo indica que os protestos tiveram seu estopim na execução do jovem Mark Duggan por policiais londrinos.

Comecemos com depoimentos de quem está lá:

Nicole Mezzasalma, jornalista, via Todos os Fogos o Fogo:

Os eventos das últimas noites podem ser racionalizados política e socialmente: o desemprego em Londres é alto, o mais alto dos últimos 30 anos; as comunidades onde a confusão começou são pobres e marginalizadas, além de sofrer constante repressão policial por causa de brigas de gangues e armas de fogo; os jovens sentem que não têm perspectivas, e quem não acha que tem um futuro não tem nada a perder; e com estruturas familiares pulverizadas, não há disciplina em casa ou nas ruas.

Ainda que eu compreenda as razões sociais e políticas por trás da frustração destes jovens, nada justifica a violência sem freios que mutilou Londres e outras cidades da Inglaterra (a confusão se espalhou para Bristol, Liverpool, Birmingham, Leeds e Nottingham ontem). Policiais reportaram ver mães com crianças entrando em lojas e usando seus filhos para carregar os produtos roubados, e muitos dos jovens envolvidos nem sabem qual partido político está no poder no país – eles viram uma oportunidade de ter um Xbox, o último modelo de tênis ou uma TV de 42 polegadas e aproveitaram a sua chance. Os seis mil policiais que patrulhavam as ruas da cidade ontem à noite não tinham equipamento ou preparo para lidar com a bagunça, e na maioria dos casos havia entre cinco e dez arruaceiros pra cada policial.



Ken Smith, morador de Brixton, via Somos andando:

Esta geração que nasceu lá por 1995 é de jovens excluídos socialmente. Eles vivem uma subcultura. Eu tenho 41 anos, e quando eu era criança eu sabia que, se estudasse e trabalhasse, eu ganharia dinheiro e teria uma vida boa. Hoje eles acham que podem ter dinheiro sem fazer nada.”

Para Smith, falta educação, disciplina e valores, o que faz com que as crianças não entendam quando estão indo muito longe e ultrapassam os limites. Mas enfatiza que a questão não é racial, embora Mark Duggan fosse negro e há suspeita de que tenha sido assassinato por preconceito.

Ele diz que o problema vem de uma ou duas décadas atrás e reside na diferença de classes, muito marcada na Inglaterra, e incentivada pela mídia. “A TV, a música, tudo influencia para fazer de você quem você é. A TV diz o que você tem que vestir. As crianças querem roupas legais, tênis, celulares. E quando elas não têm as coisas elas ficam frustradas.


Policial londrino anônimo, via Diário do Centro do Mundo:

Estou na faixa dos 30 e sou policial há 15 anos, mais recentemente à paisana, fazendo vigilância. Servi como soldado no Iraque. Pensei que tinha visto tudo que teria que ver na minha carreira. Mas nada me preparou para o que experimentei na linha de frente nesta semana. Vi pela última vez saques no Iraque, na queda de Saddam Hussein – mas agora, inimaginável, isso estava acontecendo nas ruas de Londres e de outras cidades do Reino Unido.

Talvez a visão mais chocante foi a de crianças de 10 e 11 anos atacando policiais. Uma delas gritou, olhando para mim: “Matem os tiras!” Entendo a raiva que provocou o protesto pacífico da família Mark Duggan – o homem cuja morte em Tottenham foi o estopim dos tumultos. Mas fiquei chocado com a maneira como se propagaram os protestos.O que dizer, por exemplo, das pessoas carregando em vans bens saqueados como celulares e televisores de tela plana?.E a imagem mais inexplicável da semana? Ver pessoas que transportavam mercadorias roubadas de uma loja em que tudo custa uma libra. É difícil acreditar que esses saques foram motivados pela pobreza. A maioria das pessoas, afinal, pode pagar uma libra.

Meu maior medo nas ruas de Tottenham foi que um dos oficiais sob o meu comando fosse ferido. No domingo, experimentei o desgosto de coibir um pequeno comerciante que tentava salvar seu estoque de um prédio em chamas. Tirei meu capacete para ouvi-lo melhor. Ele soluçou quando me contou como havia construído o seu negócio. Disse que agora não sabia o que fazer. Eu simplesmente não sabia o que dizer a ele. Fiz algo que repetiria muito nas próximas horas: pedi desculpa.
Mil pessoas já foram presas em Londres. Não eram apenas pobres, desfavorecidos, jovens desiludidos. Pessoas com bons empregos se envolveram nos saques. Elas observaram os saqueadores e simplesmente aderiraram. É uma desgraça. Vi muitos folhetos distribuídos por advogados que estão orientando as pessoas sobre o que fazer caso sejam presas. ”Não cooperar com a polícia” é a mensagem. Um folheto oferecia conselhos sobre como se livrar de bens roubados e de como alterar a aparência caso a pessoa tenha sido pilhada por câmeras de segurança.

Ainda existem desordeiros e saqueadores livres por aí.O que eu diria a eles? É simples. Nós vamos cuidar que se faça justiça. Temam cada batida na porta. Empacotem suas escovas de dentes – nós estamos indo apanhar vocês.






David Cameron e a polícia ainda tentam entender o que está acontecendo. Cameron chegou à bobagem de tentar proibir o acesso às redes sociais nas áreas de maior conflito, algo quase inimaginável para um país de tradição liberal como a Inglaterra


Me impressiona a Globo chamar comentaristas que não seguem a linha deles, beira o amadorismo, como na discussão sobre drogas em que a professora da UERJ Gilberta Acselrad desconstrói a argumentação da Globo (http://www.youtube.com/watch?v=vVVgsqzEh-E).
Bom, mas voltando à Londres, aí está o Silvio Caccia Bava, editor do Le Monde Diplomatique Brasil, na Globonews:




O Jornal da Cultura - talvez um dos melhores hoje, assim como o Jornal das 10 da Globonews - apresenta um depoimento emocionado de um morador londrino:



Os motivos dos protestos são muitos, ancorados nas dificuldades econômicas, na indignação frente às ações policiais, na tensão advinda da tentativa do multiculturalismo. Mais uma prova de que não chegamos ao End of History. Acho que The Clash of Civilizations vai ser a grande questão política para este século, além da energética.

Virou bagunça?

Por quanto tempo irá durar?

Now get this
London calling yeah I was there too
An' you know what they sad? Well some of it was true