domingo, 29 de agosto de 2010

Concentração de renda e análises socio-econômicas surrealistas

Colo aqui, ipsis litteris, post de Libertatum e abaixo comento. Os negritos são meus.

Concentração de renda: um embuste

Em uma sociedade livre, não há que se falar em concentração de renda, a amparar uma política pública de uma "distribuição de renda", seja por qual meio for. Em uma sociedade livre, fundada no princípio da não-agressão, e próspera, a renda já está distribuída no momento mesmo da troca dos títulos de propriedade.

Um estimado leitor trouxe-me para análise uma pesquisa do IPEA intitulada "Quadro de distribuição de renda não muda desde 1970, diz Ipea - País interrompeu processo de concentração de riquezas, mas desigualdade não diminuiu nos últimos 40 anos".

Considerando que pelo menos nos últimos vinte anos o país tem sofrido uma forte e crescente influência de políticas socialistas, uma notícia como esta poderia ser usada contra os seus autores, especialmente contra quem mais andou se utilizando dela para apregoar a sua ideologia e as suas receitas de desenvolvimento. Ponhamos uns parênteses aqui, para retomarmos este assunto lá na frente.

Com efeito, a campanha por uma distribuição de renda mais igualitarista - um conceito de corte tipicamente marxista, tem sido persistentemente o norte acadêmico em nossas faculdades, e dali para as publicações em geral e para a implementação das atividades e políticas dos mais variados órgãos públicos.

Em uma sociedade livre, não há que se falar em concentração de renda, a amparar uma política pública de uma "distribuição de renda", seja por qual meio for. Em uma sociedade livre, fundada no princípio da não-agressão, e próspera, a renda já está distribuída no momento mesmo da troca dos títulos de propriedade: Quando abasteço o meu carro, a minha renda está no tanque e a do proprietário do posto, em sua caixa registradora. E isto é tudo. Ambos estamos satisfeitos, ou de outra forma não teríamos fechado o negócio.

Pasme o leitor, mas os (pre)conceitos marxistas andam tão consolidados em nossa sociedade que não temos um termo próprio para designar uma operação de troca de títulos de propriedade; em vez disso, separamos esta operação única em duas etapas separadas, a "venda" e a "compra", e esta distinção vem bem a calhar para o estado arrostar para si o poder de regulá-las como se fossem suas concessões.

Pode ser que a oferta de gasolina seja uma atividade muito lucrativa, e que faça rico o dono daquele posto. Isto sugere que ele possivelmente venha a se tornar mais rico do que as demais pessoas de sua localidade. Todavia, em um cenário de plena liberdade econômica, isto não significa um ato de exploração, mas tão somente de aprovação popular, eis que as pessoas preferem abastecer seus veículos com o seu produto.

Mesmo que ele seja o único fornecedor das redondezas, ainda assim opera em regime de
ampla competição, pois todas as oportunidades permanecem abertas para que um futuro concorrente se instale e ofereça sua propriedade por um preço menor, ou que uma terceira figura apresente uma novidade tecnológica economicamente mais viável.


Quando o estado intervém sobre a propriedade daquele comerciante de combustíveis, seja por estipular-lhe um preço, seja por confiscar-lhe o produto das suas trocas, ele comete um ato de agressão que prejudica não somente o nosso varejista, mas toda a sociedade. No caso, o estado tanto frustra as estratégias de um possível futuro concorrente que pensava em oferecer um preço mais baixo (e preste muita atenção aqui: viável economicamente) bem como corta na raiz os estímulos para a criação de novas tecnologias de transporte e de combustíveis alternativos.


O preço constitui-se em valiosa informação para a sociedade. Quando o proprietário daquele posto cobra um preço que possa ser considerado alto pelos cidadãos em geral, mesmo inconscientemente ele está alertando a todos que o seu produto é raro, e deve ser usado com comedimento e para as necessidades mais importantes e/ou urgentes. Com isto, como explicado acima, ele também está avisando, mesmo sem querer, que outros fornecedores devem comparecer àquele mercado ou que alguém deve inventar uma forma mais viável de transporte ou de combustível.


Note o leitor como esta é uma atitude até ecológica! Dentro dos princípios de não-agressão, ninguém está proibido de usar a gasolina que adquire, mas consistentemente convencido de que precisa utilizá-la com sabedoria. É por isto que tenho afirmado: se você quer agir de forma ecologicamente correta, pense antes em agir de modo economicamente eficiente!

Entretanto, justo neste quesito o estado provoca ainda mais efeitos deletérios por conta da sua política redistributivista: ao estipular um preço mais baixo do que o mercado praticaria em um cenário de ampla liberdade, o estado estimula os cidadãos ao gasto frouxo do combustível, por fazer-lhes pensar que é abundante, e com isto podendo causar o risco de desabastecimento, cuja consequência poderá resultar em grande prejuízo aos cidadãos em alguma hora crucial em que precisariam dele e não providenciaram poupar. Que tal, por exemplo, pensar em um hospital sem diesel para o seu gerador de emergência, ou no médico que não tem gasolina para se deslocar até o seu paciente?


Tenha paciência, Sr leitor, porque a lambança ainda não acabou. Sabe o quê acontece quando a emenda acaba se mostrando pior do que o soneto? Lá vem o estado a tentar corrigir o seu erro com outros erros subsequentes, e a próxima expectativa neste caso é a de que implemente uma política de racionamento ou que submeta o consumo a uma requisição justificada por parte de cada um dos consumidores. Posso pedir licença para parar por aqui?

Sempre que alguém aceite tomar como ponto de partida para um debate um dado qualquer de concentração de renda, neste mesmo momento estará abandonando uma discussão autenticamente econômica para acumpliciar-se com a adoção de uma política socialista. Daí por diante, pode-se discutir tão somente o grau de agressão à sociedade pelo estado, só isto.


Caro leitor, não se permita à intimidação por conta dos títulos que ostentam aqueles que defendem a idéia de uma sociedade igualitarista ou de um limite imposto pelo estado para as diferenças entre as riquezas das pessoas. A rigor, não existe no Brasil a figura do economista, bem como não existem faculdades de economia. Na falta de um termo mais adequado, eu as denominaria de "planejadores estatais".


Com efeito, a grossa parte do curso dos bacharéis em economia, cuja grade compõe-se hegemonicamente de estudos sobre as obras de
Marx, Keynes e os teóricos da Escola de Frankfurt, consiste em estudos sobre políticas públicas. Quase não há interesse no estudo sobre as relações entre os particulares, a não ser justamente para aí encontrar alguma oportunidade de implantar alguma política intervencionista.


Antes que me tenham por prepotente, recorro à autoridade de
Ludwig von Mises para demonstrar que o conceito de concentração de renda não tem qualquer base econômica autêntica e portanto, não passa de um embuste. A quem quer que se dê ao prazer de ler Ação Humana ou qualquer outra de suas obras, perceberá que ele faz uso do termo "economista" com o significado de exclusão de todos os socialistas, inclusive os fabianos, como Keynes.


Sempre que perguntarmos a uma dessas pessoas qual o mal que existe em uma dada concentração de renda para a prosperidade de uma sociedade, elas simplesmente não saberão explicar. Isto porque, para elas, a perseguição de uma situação de igualdade material é um fim em si. Aqui é oportuno lembrar que o mote contra a desigualdade foi criado como uma alternativa ao fracassado apelo do empobrecimento alegadamente causado pela revolução industrial, e que, a olhos vistos, jamais se produziu.


Em linha contrária, podemos, sim, justificar como a concentração de renda desempenha um indispensável papel para a prosperidade de uma dada sociedade. Antes, todavia, vamos "lavar" este termo, para denominá-lo apenas de "riqueza" ou melhor ainda, de "poupança acumulada". Com a poupança, viabilizam-se os investimentos de médio e longo grau de maturação, tidos justamente como aqueles dos quais se esperam os maiores benefícios. A riqueza nas mãos de quem provou ser competente para geri-la provoca a produção de mais riqueza (e inclusão) para todos os demais integrantes de um determinado grupo social.


Se eu puder fazer uso de uma ilustração,
lembro de um ciclone. Imagine como em seu centro se concentra a maior energia e onde o vento flui com maior força e velocidade, enquanto as bordas, mesmo mais fracas, vão puxando as coisas ao redor e assim o fazendo crescer cada vez mais. O mesmo acontece , digamos assim, com uma virtuosa espiral de crescimento econômico. Algumas pessoas se fazem ricas antes do que as demais, mas é a riqueza delas o que justamente opera a inclusão das mais próximas, e a destas, para com as que lhes sucedem.


Não existe e jamais existiu uma sociedade igualitarista próspera, até porque o fim almejado de uma política de igualdade consiste em permanentemente tomar à força o resultado do trabalho honesto de quem se esforça por ele, desanimando-o, assim, irremediavelmente. Nas sociedades primitivas como as indígenas, todos são naturalmente iguais...e miseráveis. Nas sociedades socialistas, cria-se artificialmente uma concentração de renda a cargo do estado, a ser gerida por administradores públicos, que não possuem delegação de competência para a tomada das decisões mais cruciais, nem o talento para descobrir o que é mais urgente e necessário para a população, e enfim, nem sequer o empenho próprio para tanto.


Nos países sobre os quais se propagandeia uma diferença pequena entre a renda dos mais ricos em relação aos dos mais pobres, i.e. a Alemanha, é porque estes são muito bem educados e muito produtivos. O trabalho da maioria destas pessoas têm, em linhas gerais, um alto valor agregado, até um ponto em que as poucas pessoas pouco habilidosas, justamente por usufruírem de um mercado privilegiado - e até um certo ponto protegido pelo estado - também são bem aquinhoadas.

No Brasil, ao contrário, a população desprovida de qualquer habilidade profissional é extremamente numerosa, e a poupança é ferozmente deprimida pelo estado. Sem uma produtividade de alto nível, somos pobres trabalhando em serviços pobres para pessoas também pobres. Não admira, pois, que restem poucos ricos, e daí, tanta desigualdade.


Enfim, se algum significado útil pode ser dado ao termo "concentração de renda", este pode ser o de uma sociedade onde prevaleça a riqueza de alguns obtida por meio do uso da força agressiva própria ou promovida pelo estado.
Neste sentido, sim, podemos, adequadamente, enquadrar o Brasil, como havia alertado lá nos primeiros parágrafos, para definir um país onde as relações humanas voluntárias e mutuamente benéficas são extremamente deprimidas por guildas, sindicatos, conselhos de classe, partidos, leis de preços mínimos, leis de preços máximos, leis de distribuição de renda, leis de preços sociais, leis trabalhistas, leis previdenciárias e tanto mais."

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O que me parece:

A analogia do posto de gasolina demonstra o que acredito ser um dos grandes equívocos dos pensamentos políticos “radicais” (radical aqui sem qualquer juízo de valor, mas como propostas político-econômicas que estão em lados opostos)

O liberalismo, assim como o anarquismo, o anarcocapitalismo e o comunismo acreditam nas pessoas! Uma sociedade que se fundamente sob um “regime” liberal clássico, ou anarquista é linda, só que se desintegra rapidinho. E a luta pelo poder? Alguém se desenlaçaria do poder para que todos compartilhassem dele?

O comunismo falha ao acreditar que uma ditadura do proletariado realmente leva a uma sociedade sem classe. O liberalismo falha ao acreditar que a “mão invisível do mercado” destruirá os protecionismos, os trustes e cartéis, e que haverá uma eficiente cooperação. Esse papo do “laissez-faire” nunca me convenceu, foi necessário para fazer oposição às amarras do Mercantilismo, mas hoje já não cabe mais. (“Teses célebres, como a da mão invisível de Adam Smith, não duraram; a mão invisível era invisível porque não estava lá”, afirma Stiglitz. “Hoje, poucas pessoas acreditam que executivos de bancos, ao perseguir seus próprios interesses, promoveram o bem-estar da economia.” – Joseph Stiglitz aqui)

Uma ditadura proletária não leva à sociedade igualitária, ela se fortalece, se arraiga às estruturas de poder. Propagada pela URSS, a economia planificada afundou o leste europeu e parte da Ásia, estagnou o “motor produtivo” retendo a ambição inerente ao homem. O comunismo falha ao desacreditar no potencial benéfico de uma economia “liberalizada” (não sei se o termo está bem empregado, o utilizo para não passar a ideia de que acredito no neoliberalismo, mas acredito que um comércio mais “livre” é fundamental, principalmente relativo ao comércio internacional)

O autor reduz suas constatações a critérios mercadológicos (“Quando abasteço o meu carro, a minha renda está no tanque e a do proprietário do posto, em sua caixa registradora. E isto é tudo”). Sua “sociedade livre” me remete a um subúrbio estadunidense dos anos 50 com casinhas de grama bem aparada e carro na garagem. As pretensas análises sociais baseadas em critérios mercadológicos nos levam, por exemplo, à política de educação do governo Yeda Crusius que coloca crianças para estudarem em contêineres (e nossa arauta da dignidade, Dona Zero Hora, bate palmas aqui )

sábado, 28 de agosto de 2010

Concentração de renda e a dependência brasileira


Via Diplomatizzando, li post (esse) de Libertatum comentando sobre recente pesquisa do IPEA

Primeiro comento sobre a pesquisa e em outro post comento sobre o texto.

Quadro de distribuição de renda não muda desde 1970, diz Ipea

País interrompeu processo de concentração de riquezas, mas desigualdade não diminuiu nos últimos 40 anos

As políticas públicas de desconcentração produtiva e descentralização dos gastos e investimentos públicos dos últimos 40 anos não foram suficientes para mudar de forma significativa o quadro da distribuição de renda do Brasil. É o que conclui o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em comunicado divulgado nesta quinta-feira.

Com base no índice de Gini - que avalia a distribuição de renda, sendo 0 a distribuição ideal e 1 a maior concentração -, o Ipea constatou que o Brasil interrompeu um processo de concentração de renda, iniciado em 1920, mas, desde 1970, o quadro pouco se alterou em todo o País.

“No auge do ciclo de industrialização, por exemplo, o País registrou forte tendência à concentração da produção em poucos e contidos espaços do território nacional”, apontou o Ipea. Entre 1920 e 1970, o índice de Gini saltou de 0,65 para 0,84 em todo País, enquanto, na avaliação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita o índice saltou de 0,37 em 1920 para 0,49 em 1970.

A partir da década de 1970, avalia o Ipea, a evolução acelerada da concentração de renda foi interrompida, mas o quadro não mudou até 2007. “Esta segunda fase da integração dos municípios na participação do Produto Interno Bruto brasileiro manteve congelado o grau de desigualdade territorial dos PIBs municipais no elevado coeficiente de Gini de 0,86 entre 1970 e 2007, última informação oficial disponível.”

Para o índice de Gini dos PIBs municipais per capita, por sua vez, houve queda de 14,3% entre 1970 (0,49) e 2007 (0,42).

Regiões

A região Sudeste responde pela maior concentração de renda no País, com índice de Gini de 0,88 em 2007. A região, no entanto, é a única que apresenta processo de estabilidade no índice. Em 1970, o indicador estava em 0,89.

A região Sul, por sua vez, tem a menor concentração de renda, com Gini de 0,78. No entanto, o índice piorou nos últimos 40 anos, quando estava em 0,70.

“O índice de Gini decresceu 1,3% na região Sudeste (de 0,90 para 0,89), enquanto subiu 7,2% no Centro-Oeste (de 0,79, para 0,85), 11,5% no Sul (de 0,71 para 0,79), 3,5% no Nordeste (de 0,77 para 0,80) e 4,7% no Norte (de 0,76 para 0,80)”, completou o Ipea.

Segundo o levantamento, a concentração de renda aumentou nas pequenas cidades do País, com o índice subindo 18% entre 1920 e 1950, e mais 6,8% entre 1970 e 2007. “Os grandes municípios brasileiros registraram aumento acumulado de 10,8% entre 1920 e 1970 e queda de 9,8% entre 1970 e 2007”, comparou.

Em 1920, os grandes municípios tinham índice de Gini 48% maior que os pequenos, mas, em 2007, o indicador foi apenas 17,5% superior.

Mais ricos

O Ipea mostra que, em 2007, 1% dos municípios mais ricos do Brasil tinham PIB médio 3,3 vezes superior à média nacional. O número é três vezes maior que o observado em 1920, quando os PIBs dos ricos era 1,1 vez maior que a média nacional.

Na outra ponta da tabela, os 60% municípios mais pobres têm PIB equivalente a 2,5% da média nacional. Em 1920, o resultado era 3,2 vezes superior ao observado atualmente. “Ou seja, uma queda acumulada de 21,9% no mesmo período de tempo”, disse o Ipea.

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IMPORTANTE: esse texto é baseado no “achismo”, não estudei nada de economia, ou seja, pode estar com uma quantidade considerável de erros, ainda mais conceituais. Não gosto de escrever esse tipo de texto assim, não coloco nada novo, mas é que é não me segurei porque eu realmente não sei em que mundo vivem os liberais.

A pesquisa do IPEA é mais uma constatação da falência do Brasil em criar condições de desenvolvimento que integrem a sociedade em uma cadeia de produção dinâmica e que movimente entre a população a renda gerada e impulsione o desenvolvimento regional.

Na agricultura, podemos pensar na reforma agrária. Tão defendida pela esquerda, feita de forma inteligente, com incentivos ao produtor é a “coisa” mais capitalista - e correta - a se fazer no campo. O latifúndio é contrário à produção. Tal política atravancada por nossa bancada ruralista, da nobre senadora Kátia Abreu (aperta aqui) só atrasa o país.

A centralização foi necessária para alavancar o processo de industrialização do país e não ficarmos nos surtos industriais da República Velha. O eixo RJ-SP era o local mais apropriado para esse processo por sua importância política, quantidade populacional e condições econômicas (lembrem que quem estava sentado na grana era o pessoal do café). No Rio e em São Paulo que Getúlio concentrou os esforços na modernização e construção de um parque industrial, com a inauguração, por exemplo, da Companhia Siderúrgica Nacional e da Fábrica Nacional de Motores.

O Brasil já atravessou esse momento de “construção” e se consolidou como uma das maiores economias do mundo. Claro que temos uma matriz produtiva diversificada, mas ainda existe a dependência da exportação de commodities, nossa balança comercial não suporta mais isso, nesse semestre teve superávit 42,7% menor do que no mesmo período do ano passado, petróleo e derivados representando 12% das exportações. (“‘O petróleo contribuiu com 27,2% do crescimento das exportações no primeiro semestre de 2010, em comparação com o primeiro de 2009. Com o petróleo, as exportações totais cresceram 27,5%. Sem ele teriam crescido 20,8%’, diz à coluna Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex. (...) a balança comercial brasileira está dependendo cada vez mais de um produto que gera mais riqueza onde é consumido, lá fora, do que onde é extraído. Sei que há a exportação de derivados, que pode aumentar, mas também eles são todos gerados em refinarias, uma parte atende ao mercado interno, mas a outra segue para os portos a caminho de países onde vão, aí sim, gerar impostos e riquezas.” – O Estado de S. Paulo, 12/08/2010)

Os investimentos do Estado têm sido recordes, dinheiro para pesquisa não falta mais, sendo assim, é preciso integração mais forte entre universidades, escolas técnicas e iniciativa privada na produção de novas tecnologias e novos centros de produção. Peguemos um exemplo: ano passado, em Porto Alegre, foi inaugurada uma sede do CEITEC, empresa pública federal que produz chips de alta tecnologia. Quando o RS tiver um pólo integrando empresas privadas, empresas como o CEITEC, universidades e escolas técnicas estaremos em outro estágio de desenvolvimento industrial.

Precisamos descentralizar e centralizar. Descentralizar a produção pelo país para diversificar e alargar a produção, buscando vocações regionais, como os pólos calçadista e moveleiro no RS. Centralizar na construção de pólos fortes de produção inovadora e que tragam novas oportunidades de geração de emprego e atração de capitais.Tais investimentos serão insuficientes enquanto não tivermos incentivos que modifiquem a espetacular burocracia que sufoca o país, reformas de rodovias, novas ferrovias e portos decentes para o escoamento de produtos.


Imagem:IPEA-gráfico de distribuição de renda no Brasil comparando a variação do índice de Gini por região de 1920 a 2007

domingo, 22 de agosto de 2010

Apedrejemos

Do Blog da Companhia

A iraniana Sakineh Ashtiani continua sem saber o que acontecerá a ela após ser condenada à morte, e o governo iraniano rejeitou a oferta de asilo feita pelo Brasil.

Em resposta à situação, Fabrício Corsaletti escreveu o seguinte poema:


APEDREJEMOS AS ADÚLTERAS

vamos sequestrar as mulheres do Irã
enquanto seus maridos dormem bêbados
depois da última noitada
vamos nos casar com as mulheres do Irã
e criar seus filhos —
vamos deixar os homens do Irã sozinhos
batendo punhetas nervosas
ou fodendo uns aos outros —
vamos amar as mulheres do Irã
vamos ser traídos pelas mulheres do Irã
vamos perdoar as mulheres do Irã
e ser felizes com as mulheres do Irã

vamos sequestrar as mulheres do Brasil


Aproveitando:

sábado, 21 de agosto de 2010

Keynes X Hayek

Humor Legislativo

O Vote na Web é um site feito para o acompanhamento de projetos de lei, com a possibilidade do internauta votar simbolicamente sobre os projetos. O motivo é nobre e o site está bem estruturado, fácil de ler e há um mapa do Brasil mostrando como os estados têm se manifestado.

As "votações" reforçam minhas dúvidas quanto ao o uso de plebiscitos em nosso país.

Algumas pérolas que constatei rapidamente:

PLC 7596/10

Determinará a prisão, de 2 a 15 anos, e suspensão ou proibição para dirigir ao motorista que praticar homicídio culposo, sem intenção matar, enquanto estiver sob a influência de álcool ou entorpecentes.

(Sim, as cadeias estão vazias, precisamos ocupá-las)

PLC 7637/10

Determinará que 90% da escalação dos atletas seja divulgada com no mínimo seis meses antes da convocação para alguma competição nacional ou internacional.

(Ah...o país do futebol! Só me pergunto uma coisa: pra quê essa imbecilidade?)

PLC 7633/10

Proibirá que pessoas condenadas por determinados crimes assumam cargos de nomeação na administração pública.

(Gostei, é bem específica e não afronta princípios constitucionais)

PLC 7018/10

Proibirá a adoção de crianças por casais homossexuais.

(A legislação não pode engessar algo assim, ainda mais quando a jurisprudência vem decidindo em sentido contrário. Procuro o embasamento jurídico da proposta.)

PLC 6695/10

Ficará estipulado o uso obrigatório dos faróis de veículos durante o dia e de noite.

(Obrigado Nobre Deputado, vê-se que nossos impostos estão sendo bem aplicados com seu árduo trabalho)


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Conteúdo



Tirinha do Malvados

História da arte rapidinho

O cansaço político do conservadorismo no RS

Texto do RS Urgente:

Esgotamentos políticos não ocorrem por decreto, é certo. Mas é certo também que o Rio Grande do Sul vem sendo comandado nos últimos anos por representantes de um campo político conservador que revela sinais eloqüentes de decadência. Decadência esta que vem sendo embalada por um discurso puramente gerencial e por uma retórica vazia de um diálogo que nunca acontece. Nesta terça-feira, começa a propaganda eleitoral no rádio e na televisão. É quando o debate político-eleitoral começa a ir para às ruas de modo mais significativo. É quando, também, os discursos que embalam os diferentes projetos políticos começam a tomar forma e a apontar o que cada candidatura representa. E, cabe lembrar, elas sempre representam um setor da sociedade. Não caem do céu e tampouco representam os anjos.

Há quatro anos, a maioria do eleitorado gaúcho optou pela proposta de um “novo jeito de governar”, apresentado pela candidatura da tucana Yeda Crusius. Representante do campo político que, no Brasil, abraçou as teses do Estado mínimo e das privatizações como fator de desenvolvimento da economia, Yeda Crusius chegou ao Palácio Piratini com a bandeira contábil do déficit zero. Determinou um corte linear de 30% no orçamento de custeio de cada secretaria e limitou brutalmente as funções do Estado, especialmente na área social. Foi um governo marcado pelo autoritarismo, pela repressão aos sindicatos e movimentos sociais, pelas denúncias de corrupção e pela extraordinária capacidade de criar conflitos dentro de sua própria base de apoio. A relação caótica da governadora com seu vice, Paulo Feijó, e a gravação que este fez de uma conversa escabrosa com o então chefe da Casa Civil, César Busatto são dois símbolos marcantes desse “novo jeito de governar”.

Mas Yeda Crusius não realizou todas essas proezas sozinha e é fundamental registrar isso como indício do esgotamento político citado acima. Sua vitória só foi possível graças a uma coalizão de forças centralizada pelo PMDB, partido que, nos quatro últimos governos, esteve no Palácio Piratini em três deles – dois diretamente, com Antonio Britto e Germano Rigotto, e um, como principal força política de apoio, o governo de Yeda Crusius. Essa coalizão de partidos que oscilam do centro à direita governou o Rio Grande do Sul, portanto, em 12 dos últimos 16 anos. Um fator importante que explica essa hegemonia é a repetição de um truque que, com algumas variações, consiste em apresentar um candidato supostamente dissidente que representaria algo de novo em relação a este próprio campo político. Foi assim com Rigotto, que se apresentou como algo diferenciado em relação a Antonio Britto, aliando a isso a promessa de uma pacificação para uma suposta guerra que estaria acontecendo no Estado. Uma “guerra”, lembre-se, entre dois projetos políticos, com símbolos e propostas bem definidos na história recente do Estado.

De um lado, temos governos que apostaram na privatização da CRT, de parte da CEEE, do Banrisul (que acabou interrompida) na extinção da Caixa Econômica Estadual, na guerra fiscal para atrair empresas como a GM e a Ford, na “pacificação” e, agora, no déficit zero. Temos aí 12 anos de governo e um balanço que nunca foi feito por essas forças políticas e pelos grandes meios de comunicação do Estado que, na maioria das vezes, trabalharam como parceiros desses projetos, desempenhando inclusive protagonismos diretos como foi o caso da RBS no processo de privatização da CRT.

De outro lado, há um intervalo de quatro anos neste período, representado pelo governo Olívio Dutra. Alguns dos símbolos das apostas deste governo: Fórum Social Mundial, criação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), implementação do Orçamento Participativo Estadual, incentivo aos sistemas locais de produção, em vez de priorizar a concessão de grandes benefícios fiscais a algumas grandes empresas multinacionais.

Trata-se de um resumo esquemático, sem dúvida, e repleto de lacunas, portanto. Mas é importante mencionar esses símbolos e realizações para lembrar que se trata de projetos políticos em disputa, liderados por diferentes setores da sociedade que tem história e, supostamente, responsabilidade por seus atos e escolhas. Ocorre que, no Rio Grande do Sul, o governo Olívio Dutra continua sendo lembrado, por seus adversários político-midiáticos, pela “expulsão” da Ford, pelo “caos” na segurança pública, pela “partidarização” do Estado. E os governos Britto, Rigotto e Yeda são acompanhados por um curioso fenômeno: ao final de cada um deles, um braço político destaca-se do Executivo e se apresenta como sendo oposição ao governo do qual participou ativamente até então.

O mesmo ocorre agora com as candidaturas de Yeda Crusius (PSDB) e José Fogaça (PMDB). O PMDB teve um papel central no governo tucano: ele foi, entre outras coisas, o avalista político da governadora Yeda, quando ela enfrentou o processo de impeachment na Assembléia Legislativa. Foi o PMDB também, com a participação direta de lideranças como o senador Pedro Simon e o deputado federal Eliseu Padilha, que evitou a desintegração do governo por ocasião do episódio da gravação da conversa entre o vice Paulo Feijó e o ex-chefe da Casa Civil, César Busato (quando este, lembre-se, afirmou que partidos da base do governo utilizavam estatais para fazer caixa para campanhas políticas).

E o truque é repetido: Fogaça abandona a prefeitura de Porto Alegre e apresenta-se como o “candidato do diálogo”, uma alternativa à truculenta Yeda Crusius. Alternativa para quem? Para os mesmos setores que sustentaram o governo Antonio Britto, o governo Fernando Henrique Cardoso, o governo Rigotto e, agora, o governo Yeda. Fogaça é a aposta do PMDB que, em nível nacional, apóia Dilma Rousseff. Uma escolha que, se dependesse exclusivamente do PMDB gaúcho, talvez não acontecesse. Crítico dos “outros PMDBs” nacionais, o “velho MDB” do senador Simon não esconde suas simpatias pela candidatura do tucano José Serra. Trata-se, sem dúvida, de uma afinidade ideológica que ajuda a identificar a evolução das posições e dos governos na história recente do Rio Grande do Sul. A contradição central aí não é da candidatura de Dilma Rousseff e tampouco da candidatura de Tarso Genro ao governo do Estado.

Mas com a repetição os truques começam a perder força. A imagem apática de José Fogaça no debate realizado na TV Bandeirantes, e a eletricidade meio que enlouquecida de Yeda Crusius são um símbolo eloqüente de um esgotamento. Não há nada que garanta, é claro, que esse truque não vai funcionar mais uma vez. Talvez a mudança política qualitativa no cenário nacional, com o êxito do governo Lula acabe convencendo a maioria do eleitorado gaúcho que está na hora de virar a página e abrir um novo ciclo político na história do Estado. Há algumas regiões e empresas do Estado que já experimentam resultados positivos resultantes dessa escolha: a cidade de Rio Grande é uma delas, com o desenvolvimento de um pólo naval; a Semeato, fábrica de tratores de Passo Fundo, que saiu do buraco graças ao programa Mais Alimentos do governo federal. Há muitos outros exemplos. A própria governadora Yeda, ironicamente, falou de um deles no debate da Band, que é o fortalecimento da agricultura familiar no Estado. Não é casual que Yeda precise se referir regularmente a obras e projetos do governo Lula como sendo realizações de seu governo. É o que tem para dizer, além do discurso do déficit zero.

Os projetos, seus símbolos e realizações podem ser bem identificados. É preciso apenas levantar o véu de mistificação que cobre o Estado há alguns anos, tecido pela retórica conservadora que promete paz onde não há guerra, que olha para o Estado como um apêndice de seus negócios privados e que acena eternamente com o novo que sempre se repete como velho. A repetição do truque indica, de fato, que essas forças não tem nada de verdadeiramente novo para oferecer ao povo do Rio Grande do Sul.

sábado, 14 de agosto de 2010

Tu és pó, e ao pó voltarás *

Viagenzinha interessante, tirada do Diário Gauche, só pra dar um ideia do nosso egocentrismo ao acharmos que somos grande coisa




*pra combinar com o momento bíblico do blog

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Excelente



Aproveitando o tema do post anterior:


"A política depende das nossas habilidades de persuadir uns aos outros. Ela envolve negociação, a arte daquilo que é possível. E, em algum nível fundamental, a religião não permite negociar, é a arte do impossível. Se Deus falou, então espera-se que os seguidores vivam de acordo com os éditos de Deus, a despeito das consequências. Agora, basear a vida de uma pessoa em compromissos tão inegociáveis pode ser sublime, mas basear nossas decisões políticas em tais compromissos seria algo perigoso"

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Lavagem Cerebral

Pego do Bule Voador


Wikipédia:

Jesus Camp is a 2006 American documentary film directed by Rachel Grady and Heidi Ewing about a charismatic summer camp for children who spend their summers learning and practising their "prophetic gifts" and being taught that they can "take back America for Christ." According to the distributor, it "doesn't come with any prepackaged point of view" and tries to be "an honest and impartial depiction of one faction of the evangelical Christian community".

Jesus Camp debuted at the 2006 Tribeca Film Festival, and was sold by A&E Indie Films to Magnolia Pictures. Controversy surrounding the film was featured in several television news programs and print media articles in 2006.

On January 23, 2007, Jesus Camp was nominated for the 2006 seventy-ninth Annual Academy Award (Oscar) for Best Documentary Feature. It lost to Davis Guggenheim and Al Gore's An Inconvenient Truth.

Jesus Camp is about the "Kids On Fire School of Ministry," a charismatic Christian summer camp located just outside Devils Lake, North Dakota and run by Becky Fischer and her ministry, Kids in Ministry International. The film focuses on three children who attended the camp in the summer of 2005—Levi, Rachael, and Tory (Victoria). The film cuts between footage of the camp and a children's prayer conference held just prior to the camp at Christ Triumphant Church, a large charismatic church in Lee's Summit, Missouri, a suburb of Kansas City.

All three children are already very devout Christians. Levi, who has ambitions of being a pastor, has already preached several sermons at his father's church, Rock of Ages Church in St. Robert, Missouri. He is homeschooled, with his mother explaining that God did not give her a child just so he could be raised by someone else eight hours a day. He learns science from a book that attempts to reconcile young-earth creationism with scientific principles. He is also taught that global warmingis a political speculation, and that the Earth's temperature has only risen by 0.6 °F. Levi preaches a sermon at the camp in which he declares that his generation is key to Jesus's return. Rachael, who also attends Levi's church (her father is assistant pastor), is seen praying over a bowling ball during a game early in the film, and frequently passes Christian tracts (including some by Jack Chick) to people she meets, telling them that Jesus loves them. She does not think highly of non-charismatic churches (or "dead churches," as she calls them), feeling they are not "churches that God likes to go to". Tory is a member of the children's praise dance team at Christ Triumphant Church. She frequently dances to Christian heavy metal music, and feels uncomfortable about "dancing for the flesh". She also does not think highly of Britney Spears and Lindsay Lohan, claiming that their music is mostly about "girls and boys".

At the camp, Fischer stresses the need for children to purify themselves in order to be part of the "army of God". She strongly believes that children need to be in the forefront of turning America toward conservative Christian values. She also feels that Christians need to focus on training kids since "the enemy" (Islam) is focused on training theirs. She refers to the Earth as "a sicko world" and wishes forJesus' return. In the preparation meetings before the camp begins, she asks other staff members how they should prepare for "demonic forces" that may be stirred up during camp services.

Fischer is shown preaching a sermon where she mentions Harry Potter and claims that had he existed in biblical times, he "would have been put to death". Fischer admonishes the children—many of whom are in tears—that many among them are "phonies" who curse or engage in non-evangelical behaviors with friends at school, and says "clean up your act". As several tearful children gather around her, she pours water on their hands to be "washed in the water of [God's] word."

During a rainy night at the camp, the boys tell each other ghost stories. A counselor admonishes the boys that ghost stories "do not honor God".

In one scene shot at Christ Triumphant Church, Lou Engle preaches a message urging children to join the fight to end abortion in America. Children are shown a series of plastic fetuses and have their mouths covered with red tape with "Life" written across it. Engle is a founder of the Justice House of Prayer and a leader ofHarvest International Ministries, the religious organization with which both the church and Fischer's ministry are affiliated. He prays for Bush to have the strength to appoint "righteous judges" who will overturn Roe v. Wade. By the end of the sermon, the children are chanting, "Righteous judges! Righteous judges!" In another scene, a woman brings a life-sized cutout of Bush to the front of the church, and has the children stretch their hands toward him in prayer. This is a derivative of laying hands, a common practice in charismatic Christian circles.