quarta-feira, 28 de julho de 2010

Considerações Iniciais - Ciência I


Pego a imagem e o texto de Cláudio Reis do Adaga, post original aqui

A VISÃO REDUCIONISTA E A VISÃO SISTÊMICA NA CIÊNCIA

“O método analítico constitui um procedimento útil, instrumentalista, mas que leva a um distanciamento cada vez maior da realidade essencial: opera com modelos inertes, ou simples representações estáticas ou estruturais da natureza. O fato de ser útil ao entendimento parcial da realidade não significa que corresponda à própria realidade.” Samuel Murgel Branco, em Ecossistêmica (2ª edição, pág. 180)

Bueno, gaudérios e prendas, resolvi prosear outra vez. Já preparei um mate e vou começar minha payada, depois de um tempo ausente. Hoje, o assunto é sobre dois grandes paradigmas conceituais e suas maneiras de fazer Ciência. Vou começar com uma breve introdução no pensamento sistêmico por que me veio um bom exemplo, e estou com ele na mão: a cuia. Refiro-me à cuia como o local aonde vai a erva, a água e a bomba, não como fruto da cuieira. É um conceito, pois, funcional. Independente do material de que a cuia é feita (barro, pedra, latão, fruto de uma árvore). Assim como o conceito de copo é independente de sua natureza material. No entanto, essa função só é possível por que o objeto é feito de matéria, ou seja, para deixar claro, não estamos falando em questões metafísicas. Lá vai!

De acordo com o método analítico, a melhor maneira de se entender a natureza consiste em reduzi-la a tantas partes quantas for possível, as quais são, a seguir, analisadas em detalhe. Ora, todos sabemos que a cuia, uma vez fragmentada, deixa de ser cuia, pois perde a sua função. No caso de uma cuia que é um fruto, como a que eu tenho na mão, poderemos aprofundar-nos no conhecimento de sua estrutura molecular, atômica, subatômica, enfim, na sua natureza material mas nos distanciaríamos cada vez mais do seu conceito de cuia, o qual é ligado a sua função (como a conceituei no início). Com a fragmentação, algo foi perdido, alguma ligação entre as partes, ligação essa que é indispensável à compreensão do todo. Isso ocorre porque a fragmentação acaba com a organização do sistema. E é essa organização que permite a função. E é essa função que define o conceito.

Primeiramente, vamos nos contextualizar (palavra essa que os reducionistas fazem questão de deixar de lado). Porém, sabemos que o contexto – ou ambiente nas ciências naturais – é importante se desejamos compreender um pouco melhor qualquer assunto.

Nos séculos XVI e XVII, a visão de mundo medieval, baseada na filosofia aristotélica e na teologia cristã, mudou radicalmente. A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção do mundo como uma máquina, e a máquina do mundo tornou-se a metáfora dominante da era moderna. Essa mudança radical foi realizada pelas novas descobertas em física, astronomia e matemática, conhecidas como Revolução Científica e associadas aos nomes de Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon e Newton.

Com a Revolução Científica, a Ciência se desvinculou, de certa maneira, da Filosofia e passou a constituir uma disciplina autônoma baseada no método científico. Esse método, inicialmente apresentado por Descartes no Discurso Sobre o Método (1637), é essencialmente analítico. Consiste em quebrar os fenômenos complexos em pedaços a fim de compreender o comportamento do todo a partir das propriedades de suas partes.

O arcabouço conceitual criado por Galileu e Descartes – o mundo como uma máquina perfeita governada por leis matemáticas exatas – foi completado de maneira triunfal por Isaac Newton, cuja grande síntese, a Mecânica Newtoniana, foi a realização que coroou a ciência do século XVII.

Obviamente, essas descobertas foram extremamente importantes para o conhecimento científico, e eu não seria audacioso o suficiente para “diminuir” o trabalho desses grandes pensadores. Mas, mesmo assim, vejo limitações no pensamento reducionista. Pois, se o objetivo da ciência é entender a natureza tal como ela é na realidade, o uso de apenas o método analítico deixará a ciência um tanto distante do mundo real. Esses cientistas trabalharam num universo extremamente restritivo, de maneira que seus postulados são verificados apenas quando se desconsidera variáveis ou quando se isola o objeto de estudo do sistema maior no qual está inserido.

Newton mostrou ao mundo como descrever de uma forma exata e determinada a interação dos corpos – objetos com massa – mas tal interação está limitada a apenas dois corpos (desconsidera outras interações com outros corpos) além de não considerar, por exemplo, a força de resistência do ar (excluindo variáveis reais). Mesmo assim, é claro que tais descobertas produziram um avanço tremendo para a ciência da época e por isso acho merecedor o termo Revolução Científica. No entanto, o que eu quero mostrar é que a realidade difere e muito do que o reducionismo propõe. A natureza é mais complexa e muito dela se perde quando é utilizado apenas o método analítico.

Hoje, nas Ciências Biológicas, o “programa reducionista de pesquisa”, que tem por meta reduzir todas as propriedades e fenômenos da vida aos processos físicos e químicos, busca explicar os sistemas vivos dentro da estrutura dessas outras duas ciências. Porém, pensadores sistêmicos opõem-se a esse tipo de redução na Biologia. Embora as leis da física e da química sejam aplicáveis aos organismos, elas são insuficientes para uma plena compreensão dos sistemas vivos.

O comportamento, por exemplo, de um organismo vivo como um todo integrado não pode ser entendido apenas a partir do estudo de suas partes. Como dizem os teóricos sistêmicos, o todo é mais do que a soma de suas partes (pode ficar tranqüilo, xiru/xirua, a lógica não foi atorada pela adaga não; é que estamos falando em termos qualitativos e não quantitativos).

Esse algo a mais é a organização, proporcionada pela entrada de energia no sistema e que se reflete em informação. A energia que entra no sistema permite uma maior complexidade, que é gerada por um número maior de interações entre os elementos. Assim, a ordem gera novas propriedades para o todo, chamadas propriedades emergentes, por emergirem em um nível mais alto de integração e não poderem ser previstas a partir dos componentes em níveis inferiores. Aí está a explicação para a objeção dos teóricos sistêmicos quanto à redução da Biologia à Física e à Química.

É lógico que os constituintes e os processos nos sistemas vivos são de origem física e química, isso não há de se duvidar. Como se formariam sistemas vivos naturais se não fosse com elementos e processos dessas outras duas ciências? A diferença, porém, está na alta organização e complexidade dos sistemas biológicos. O conceito de herança, de evolução, de autopoiese é abstraído do mundo natural e são, portanto, de natureza física e química. Porém, sistemas físicos não possuem essas propriedades, o que dá autonomia às Ciências Biológicas em relação a outras Ciências, de maneira que a tentativa de explicar sistemas vivos baseando-se apenas em propriedades existentes em sistemas não-vivos deixará uma boa parte da Biologia sem explicação.

Propriedades emergentes, no entanto, não são exclusivas do mundo vivo. As ligas metálicas, por exemplo, possuem propriedades que não existiam em cada um de seus componentes isolados. No caso da água, a “aquosidade” não pode ser prevista a partir das características de seus dois elementos, hidrogênio e oxigênio. Sistemas químicos auto-organizadores, como as “estruturas dissipativas” de Ilya Prigogine, também possuem diversas propriedades emergentes.

A Adaga do Xiru Occam, ou Navalha de Occam, pode ser vista como um princípio reducionista apenas em termos. Como sabemos, esse princípio afirma que quando duas ou mais teorias possuem o mesmo poder explicativo, ou mesma capacidade na resolução de problemas, a melhor teoria é aquela que explica o fenômeno de maneira mais simples. Ou seja, a teoria mais simples é a melhor apenas quando tem a mesma capacidade explicativa das teorias mais complexas. Esse princípio é extremamente importante para a ciência, mas deve ficar claro que a comparação das teorias deve se restringir àquelas que têm o mesmo poder na resolução de problemas. Ela só é reducionista nesse sentido e por isso não é um campo de objeção para os teóricos sistêmicos. Não se pode utilizar o princípio da Adaga de Occam para reduzir, por exemplo, a Biologia à Física e à Química. Porque, como sabe qualquer estudante de Biologia, existem inúmeros conceitos – como territorialismo, exibição, evasão de predadores, entre outros – que explicam fenômenos de âmbito puramente biológico.

Tanto um reducionismo quanto um “sistemismo” extremados são prejudiciais e alienadores para quem os segue. Desconsiderar a organização e interação dos elementos num sistema é um procedimento tão cego quanto se ater apenas as conexões no sistema sem considerar seus elementos. Na verdade, a visão sistêmica que não dá valor algum à análise torna o todo incompreensível e, de certa maneira, dogmático. Porque para entender as interações é necessário conhecer os elementos do sistema, por mais que as propriedades do sistema não sejam intrínsecas a esses.

É isso, gauchada, acabei me estendendo demais! Um abraço a todos e até a próxima prosa. Agora to indo jantar um carreteiro de charque macanudo, desses que o bagual enceba o bigode...

Considerações Iniciais


Começo aqui uma nova categoria de postagens: CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Críticas e análises, não só minhas, sobre temas de importante discussão, que devem ter suas considerações constantemente "atacadas" por argumentos. São iniciais, porque, por óbvio, não são definitivas, principalmente deste que escreve. Inicio com o preferido da casa, aquele que considero o que acaba abarcando a todos os outros:

CONSIDERAÇÕES INICIAIS - DIREITO I

Ubi societas, ibi jus – Onde está a sociedade, está o Direito

A ideia para esta postagem veio de um trabalho realizado na disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, na Faculdade de Direito da Fundação Escola Superior do Ministério Público, ministrada pelo Professor Jayme Weingartner Neto - Coordenador da Faculdade de Direito da FMP, Promotor de Justiça desde 1991. Graduado pela UFRGS, mestre em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Coimbra (Portugal) e doutor pela PUC/RS, na área de Instituições do Direito do Estado, além de leitor de Fernando Pessoa.

Em termos de pré-compreensão, você é: legalista, idealista, formalista, pragmático, realista, crítico, apologético...

Tento me definir como “apologético-crítico”. Por mais paradoxal que possa parecer em um primeiro momento, acredito que possa explicar o “conceito”. Sou apologético ao Direito por acreditar na força do Direito como instrumento de mudança, apesar de ser sim uma forma de dominação e de manutenção de um status quo, mas acredito que só ele pode responder, como instrumento de correção, de forma eficaz às deturpações desse status quo.

O Direito deve se desenvolver sempre, sendo uma ferramenta capaz de garantir aos cidadãos base para que cresçam como indivíduos e como comunidade. Para esse papel transformador do Direito, me ponho ao lado da corrente crítica, julgando imprescindível que os que estudam Direito sejam os mais críticos a ele. Um estudante de Direito não pode se tornar simplesmente um técnico, ele deve ser capaz de enxergar o Direito como fruto do homem e de seu desenvolvimento político-econômico e principalmente ser capaz de visualizar as consequências da aplicação do Direito. O técnico aplica eficazmente as normas, é capaz das maiores proezas jurídicas, mas não é teleológico. O fim, a conseqüência, deve ser preocupação constante do aplicador do Direito. E se esse aplicador não procurar estudar Sociologia, Política, Economia, Filosofia, não terá compreensão sobre seu objeto de trabalho e continuará um processo de imbecilização do Direito. Na realidade, os opressores e exploradores simplesmente aplicam o direito em vigor (Professora Bernadotti, personagem do livro O caso dos Denunciantes Invejosos, de Dimitri Dimoulis, autor abaixo mencionado). Cito novamente o Professor Plauto Faraco de Azevedo: Não se pode considerar a norma jurídica isoladamente, sendo necessário buscar sua conexão com seu fim, com seu conteúdo ético-jurídico e com sua repercussão social, com as condições históricas em que surge com seu desenvolvimento em nossa época. Donde ser indispensável ligar vários aspectos: o histórico, o sociológico e o sistemático, ou, como dizia o jovem Savigny, o filosófico. Só assim, com está visão ampla, pode a Ciência jurídica desempenhar de modo satisfatório a tarefa social que lhe incumbe.

Identifica-se com alguns dos conceitos históricos analisados, de Celso a Eros Roberto Grau?

Os conceitos estudados estão no livro Manual de Introdução ao Estudo do Direito, de Dimitri Dimoulis - Bacharel em Direito pela Univ. Nacional de Atenas, Mestre em Direito público pela Univ. Paris I (Panthéon-Sorbonne), Doutor em Direito pela Univ. Saarland, Pós-Doutorado pela mesma Universidade. Professor da Escola de Direito de São Paulo da FGV. Diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Constitucionais.

Os conceitos são de: Platão, São Tomás de Aquino, Hobbes, Pufendorf, Spinoza, Rousseau, Kant, Hegel, Savigny, Bergbohm, Ehrlich, Kelsen, Pachukanis, Alexy e de Eros Roberto Grau.

O conceito de Kant¹, através dos imperativos categóricos, me parece essencial para a conceituação do Direito. Diferentemente de outras ciências sociais, o Direito não procura revelar o que acontece, mas o que deveria acontecer, deve servir de horizonte ético, devendo conciliar as liberdades individuais com as liberdades coletivas. A partir de Kant, podemos passar para o conceito de Alexy², que assinala que o legislador deve criar regulamentos razoáveis e adequados respeitando os mandamentos da justiça e de que o ordenamento jurídico não compreende somente as normas explicitamente criadas por este legislador, mas também os princípios aceitos pela sociedade e que o Direito é autoridade, correção e eficácia social. Acrescento ainda a Teoria Tridimensional do Direito de Miguel Reale para reforçar a ideia de que o Direito é produto de construção político-econômica - mas não deve ser suplantado pela Política e pela Economia - e que está inerentemente atrelado à realidade social.

1 Kant considera o direito como produto da sociedade e expressão de obrigações morais dos indivíduos. A diferença entre a moral e o direito está no fato de que o direito ameaça com coação em caso de descumprimento da norma e não se interessa pelos motivos da ação dos indivíduos, mas somente pelos seus resultados.

O direito deve expressar uma regra básica: devemos atuar de forma que a nossa conduta possa valer como lei geral.

O objetivo do direito é conciliar a liberdade de cada um com a liberdade dos demais, de forma que a liberdade possa prevalecer como regra geral. Para ele, o direito é o conjunto de regras estabelecidas pelo Estado para garantir a liberdade de todos os indivíduos e não somente sua sobrevivência, como dizia Hobbes. Assim sendo, Kant sustenta que o direito não é simplesmente o útil, mas o certo. O direito positivo só é aceitável quando respeita a regra de ouro e preserva a liberdade de todos.

2 Segundo Alexy, a definição dada ao direito por autores positivistas como Bergbohm e Kelsen não é suficiente. Para reconhecer a validade de uma norma não basta que ela seja criada pelas autoridades competentes conforme a Constituição e que o ordenamento jurídico seja globalmente aceito pela sociedade. O autor considera que o direito está estritamente vinculado aos preceitos morais vigentes em determinada sociedade.

Isso significa, em primeiro lugar, que as normas “extremamente injustas” não são válidas, mesmo que as autoridades do Estado as apliquem. As normas jurídicas devem manifestar a vontade do legislador de criar regulamentos razoáveis e adequados, respeitando os mandamentos da justiça.

Em segundo lugar, o ordenamento jurídico não compreende somente as normas explicitamente criadas pelo legislador, mas também os princípios morais aceitos pela sociedade. O direito não possui uma “dimensão real” (normas criadas pelo legislador), mas também uma “dimensão ideal” que lhe dá sentido enquanto conjunto de normas que objetivam satisfazer as exigências de justiça.

Qual relação observa entre direito/coerção e entre direito/Estado?

O Direito é a força legitimada - ou teoricamente legitimada, e sobre tal questão não tenho pretensão agora nem conhecimento para resolvê-la – para fazer valer uma ordem fundada em certo conjunto de regras e princípios relevantes para determinada sociedade. A teoria de Hobbes é necessária para que possamos enxergar no Estado o responsável pela força organizada para a garantia de respeito aos direitos de cada cidadão e para a garantia de uma sociedade que não se anomize pelo estado de natureza. A partir do estabelecido por Hobbes podemos chegar a Rousseau³ para quem o Direito é produto de vontade política de mudança como expressão da “vontade geral” através de um pacto social democrático.

Uma ressalva, e com ela não quero parecer elitista-conservador-preconceituoso. Rousseau propõe um conceito que a meu ver hoje é por demais utópico, ainda mais para países com democracias não totalmente consolidadas e falta de espírito republicano. Acredita na autolegislação, através de instrumentos como plebiscitos, para uma democracia que realmente determine a vontade geral. Quando ouço críticas à política nacional, de que o povo não tem participação e defendendo maior frequência de plebiscitos para as decisões nacionais me assusto. Já imaginaram uma massa (e aqui não quero dizer os pobres, mas a massa representada por todas as classes) despolitizada decidindo? Gente simples, aos milhares, que busca conforto em pastores neopentecostais e acabam lhes servindo de massa de manobra; uma classe média que falhou e continua falhando como cidadã, que não sabe em quem votou na última eleição e que não tem preocupação de entender as diferenças entre projetos políticos e uma elite acomodada decidindo pontos polêmicos como direitos homoafetivos e liberalização de drogas não me soa nada promissor. Não quero dizer que estou satisfeito e que confio em nossos nobres representantes legislativos, muito pelo contrário, mas a ideia plebiscitária não me satisfaz.

A solução? Não sei. Alguém sabe, além dos argumentos de investimentos em educação, segurança, etc?

3 Rejeitando a visão autoritária de Hobbes, que falava de um pacto de sujeição ao Estado, Rousseau entende que o pacto social deve permitir que o povo crie suas próprias lei e não se submeta à vontade dos poderosos

Encontramos aqui o ideal da autolegislação fundamentado em um pacto social democrático. O direito deve expressar a soberania do próprio povo e garantir a ordem e a segurança sem abolir a liberdade dos membros da sociedade. O direito deve resultar de decisões da própria coletividade e defender seus interesses (expressão da vontade geral)

O direito aparece, assim, como produto de uma vontade política de mudança.

Proposta de Conceituação:

A Engenharia como aplicação da Matemática e da Física; a Medicina como aplicação da Química, da Biologia e da Física; a Economia como aplicação da História e da Matemática. Através dessa analogia extremamente simplista busco construir meu conceito de Direito, e este se vale de que:

O Direito deve ser a aplicação das Ciências Humanas. O Direito deve buscar a confluência dos ensinamentos da História, da Filosofia, da Sociologia, da Antropologia, da Política, da Economia, estando o dever-ser organizado em normas e aplicado pelo Estado na pretensão de correção e na direção de uma justiça distributiva para o fortalecimento dos ideais democráticos, republicanos e cidadãos.

Imagem: Têmis na Corte de Justiça da Austrália. Fonte: Benites Jurídico

E fez-se a luz sob os céus da Catalunha


Finalmente!

Não consigo entender (fora os lucros do evento) como a Espanha consegue organizar um festival gigantesco em celebração a um santo católico para legitimar a tortura de animais com a corrida dos touros, além das touradas em si.

O argumento dos favoráveis às touradas, de que é “cultural”, é muito complicado. Até que limite vai tal argumento? Pode legitimar mutilação genital feminina, escravidão e assim por diante. Porque os touros merecem menos consideração do que se no lugar dele estivesse uma pessoa? Dizer, que “as pessoas são livres ou não para ir às touradas” também não cabe em um Estado Democrático de Direito.

O Brasil saiu na frente, desde 2007 proibimos a Farra do Boi em Santa Catarina

Do G1:

O Parlamento catalão aprovou nesta quarta-feira (28) com 68 votos a favor, 55 contra e 9 abstenções o decreto de proteção dos animais, que implica a proibição das touradas nesta próspera região do nordeste da Espanha, a partir de 2012.

Depois que os deputados conservadores do Partido Popular (PP, oposição) e do grupo Ciutadans anunciaram seu voto contra a proibição das touradas, a principal incógnita se centrava nos que fariam os legisladores do Partido Socialista da Catalunha (PSC) e os nacionalistas da Convergencia i Unió, aos quais os partidos deram liberdade de voto.

Os admiradores das touradas defendiam uma tradição cultural enquanto que os adversários reclamavam o fim da tortura contra os animais.

"As touradas são um espetáculo da tortura", afirmou o porta-voz do grupo verde Iniciativa Per Catalunya-Els Verds (ICV-EUIA), Francesc Pané. Para a organização AnimaNaturalis trata-se de um primeiro passo para a abolição das touradas em todo o mundo.

A atriz francesa Brigitte Bardot, famosa por sua defesa dos direitos dos animais, comemorou a decisão.

"É uma vitória da democracia sobre os lobbies taurinos. Uma vitória da dignidade sobre a crueldade. A tourada é de um sadismo incrível. Já não estamos nos jogos circenses e é necessário pôr um fim imediato a esta tortura animal", afirmou em um comunicado.

Esta virou uma "questão política" na região onde "a ideia é extinguir tudo o que for espanhol", clamava nesta terça-feira o editor do diário madrileno "El Mundo".

Esse foi um tema recorrente nos últimos dias na imprensa conservadora, que via na possível proibição uma vontade de revanche dos políticos catalães, depois de uma recente decisão do Tribunal Constitucional que retirou certos aspectos do estatuto de autonomia da região.

A votação aconteceu num contexto complicado para o setor "taurino" na Espanha, que gera cerca de 40 mil empregos e bilhões de euros por ano, e que vem sentindo efeitos negativos desde 2009 por causa da crise econômica.

Do The Guardian:

"It is the worst attack on culture since our transition to democracy," said the Catalan poet Pere Gimferrer.

While some mourned the loss of a cultural jewel, the vote was hailed by animals rights campaigners worldwide. Ricky Gervais and Pamela Anderson were among the 140,000 who signed an international petition to the Catalan parliament.

"It sickens me to know that people are still paying money to see an animal suffering in such a horrific way," Gervais said before the vote. About 13,500 fighting bulls die in Spain every year – many in bullfights funded by local authorities who are estimated to pay out up to €550m (£457m) in subsidies.

In Spain, critics pointed to dark, if barely-disguised, political motives. Bullfight fans claimed many Catalan nationalist deputies had voted out of spite, because the fighting bull is an emblem of Spain – where it is known as the "national fiesta" – rather than of Catalonia.

The local El Periódico newspaper reported that several nationalist deputies had decided to back the ban only after Spain's constitutional court struck down parts of the region's 2006 autonomy charter earlier this month. At least 430,000 people, or 6% of all Catalans, protested on 10 July in Barcelona against the court's decision ,which declared Catalonia was not legally a nation.

Bullfight campaigners said the ban would cost €300m in lost revenues, and argue that the fight was an art form, rather than a cruel bloodsport.

"This is dictatorship," the Catalan bullfighter Serafín Marín said. "It is not a cruel show. It is a show that creates art: where you get feelings and a fight between a bull and person, where the person or the bull can lose their life."

Others saw a sinister attack on people's freedom to choose their own pastimes. "It is an attack on liberty," said Fernando Masedo, president of the International Federation of Bullfighting Schools, where children and youths learn how to face an angry bull. "People are free to go or not go to the bullring."

Outras imagens do The Boston Globe sobre o último Festival de San Fermín aqui

terça-feira, 27 de julho de 2010

Documentos sobre guerra no Afeganistão vazam

DOWNLOAD DOS ARQUIVOS: aqui e aqui

O vazamento só vem a confirmar o que já se sabia.

Paquistão, ao mesmo tempo em que recebe milhões de dólares dos EUA para servir de aliado estratégico regional na Guerra ao Terror, apóia membros do Talebã visando seu domínio da Caxemira ao insuflar extremistas.

As tropas do país que mais investe em ciência e indústria bélica, não estão preparadas para esse conflito gigantesco. A Wikileaks já havia divulgado um vídeo em que soldados em um helicóptero matam jornalistas. As tropas da OTAN, que frequentemente erram o alvo, não estão sob a supervisão que deveriam estar.

Etc, etc, etc.

Crimes de guerra? Certamente aparecerão. E agora? O Conselho de Segurança vai clamar por respeito à Convenção de Genebra e por condenações conjuntas aos responsáveis? Haha.

Do Correio do Povo:

Os relatórios (do período de janeiro de 2004 a dezembro de 2009) trazem informações sobre mortes de civis causadas por forças americanas e acusações de que serviços de inteligência do Paquistão teriam apoiado militantes do Talebã.

Segundo o fundador do Wikileaks, Julian Assange, à primeira vista, dá a impressão de que existem provas de crime de guerra nestes documentos.

Do The Guardian:

The Afghanistan war logs series of reports on the war in Afghanistan published by the Guardian is based on the US military's internal logs of the conflict between January 2004 and December 2009. The material, largely classified by the US as secret, was obtained by the whistleblower website Wikileaks, which has published the full archive. The Guardian, along with the New York Times and the German weekly Der Spiegel, was given access to the logs before publication to verify their authenticity and assess their significance.

Do Estadão:

Parte dos documentos revelam que, em agosto de 2006, um relatório da inteligência americana teria constatado que Bin Laden teria ido a uma reunião em Quetta, perto da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Segundo o material, ele e outros líderes insurgentes, como Mullah Omar, do Taleban, estariam planejando ataques terroristas.

Quase 200 relatórios dizem respeito à Força Tarefa 373, uma unidade militar especial cujo trabalho era matar ou capturar comandantes da Al-Qaeda e do Taleban. Os arquivos mostram 144 incidentes envolvendo civis afegãos, incluindo 195 mortes.

Papel do Paquistão

Muitos dos documentos sugerem que o serviço de espionagem do Paquistão pode estar ajudando o Taleban a planejar e realizar ataques contra as forças internacionais no Afeganistão. Alguns relatórios também apontam a cooperação dos paquistaneses com a organização terrorista Al-Qaeda.

Oficiais da inteligência americana dizem que há alguns anos o Paquistão cortou o contato com os grupos taleban. O material, porém, sugere que o diretório de Interserviços de Inteligência, conhecido também como ISI, pode ter ajudado os rebeldes pelo menos no passado.

Os documentos detalham várias ocasiões de cooperação entre o general aposentado Hamid Gul, chefe do ISI no fim da década de 80, e os insurgentes afegãos que lutavam contra os americanos nas regiões montanhosas do leste do país.

Segundo eles, o general auxiliava combatentes mujaheddin e tentava estabelecer contato com Gulbuddin Hekmatyar e Jalaluddin Haqqani, dois dos maiores líderes insurgentes do Afeganistão. Além dos últimos dois, Gul também fez contato direto com Mohammed Omar, atual líder do Taleban.

O governo paquistanês negou as alegações. "Esses relatórios não refletem nada além de comentários e rumores de apenas uma fonte, que não considera os lados do Afeganistão e do Paquistão e geralmente se revelam falsos depois de melhor examinados", disse Husain Haqqani, embaixador do Paquistão nos EUA.

Alienação

Boa parte do material divulgado também apresenta queixas de funcionários do governo e civis afegãos. Há reclamações sobre tropas mal equipadas, autoridades corruptas e sobre tropas americanas que parecem aguardar recursos para lutar.

Os documentos ainda destacam que as mortes de civis causadas por erros em operações militares alienou os afegãos. Embora o número de baixas de pessoas não ligadas à guerra tenha decaído nos últimos meses, muitas não foram registradas

Da Folha:

REAÇÃO AFEGÃ

O governo afegão disse estar "chocado" com a proporção do vazamento, mas afirmou que grande parte das informações "não são novas".

Em entrevista coletiva em Cabul, o principal porta-voz presidencial, Wahid Omar, disse que o presidente do país, Hamid Karzai, se mostrou "surpreso" pelos mais de 90 mil documentos que vazaram da organização Wikileaks, mas não por seu conteúdo, já que o governo afegão "reiterou sua preocupação há muito tempo" pelos assuntos abordados.

O governo expressou o desejo de que o vazamento sirva para "conscientizar ainda mais" as potências estrangeiras sobre dois problemas sobre os quais o país vem insistindo: a morte de civis e os refúgios de terroristas no Paquistão.

Sobre o papel desempenhado pela espionagem paquistanesa (ISI) na guerra afegã, Omar disse que desde 2006, quando aumentaram os ataques terroristas de grande envergadura, o governo do Afeganistão já avisou que o êxito militar no país dependia das áreas tribais paquistanesas.

"Os documentos vazados que lemos até agora nos ajudarão, esperamos, a entender o papel desses fenômenos na guerra do Afeganistão", concluiu o porta-voz.

Foto: AFP

A renovação das mídias

Matéria de Rachel Duarte, no Sul 21 de hoje:

Nassif explica porque a Internet derrubou o poder dos “formadores de opinião”

Nos dias 21 e 22 de agosto, em São Paulo , acontecerá o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. O objetivo do evento é contribuir para a democratização dos meios de comunicação e fortalecer as mídias alternativas, que vem ganhando forte espaço e credibilidade nos últimos anos.

O Jornal Brasil Atual (Rede Brasil Atual) entrevistou o introdutor do jornalismo eletrônico no país e premiado pela Academia Ibest por ter o melhor blog de política no Brasil: o jornalista Luis Nassif.

Confira os melhores momentos da entrevista, editados pelo Sul 21:

Jornal Brasil Atual - Há de fato uma expansão dos blogs e da mídia chamada alternativa? Por que que mudou?

Primeiro, porque todos passaram a estar na mesma plataforma hoje (jornalões, portais,blogs). Depois, você tem a mídia tradicional ou a velha mídia, nos EUA, Europa e aqui tinha um conjunto de truques para lidar poder político, que a blogosfera começou a desmascarar. Então fazer falsos escândalos ou manipular ênfases são desconstituídas na rede. A subordinação de todos os fatos à influência dos interesses das organizações e grandes empresas donas dos jornalões e da televisão perdeu esse poder absoluto. Acabou o monopólio, até mais cedo que eu estimava. A maioria das pessoas bem informadas não tem mais seu líder, aquele que forma sua opinião.

A maioria das pessoas não quer mais ter sua opinião formada por indução de determinado veículo, eles tem acesso à Internet e querem eles próprios buscar informações e formar suas opiniões.

Jornal Brasil Atual - Parece que hoje é uma pauta só não é?

Você veja que 90% das denúncias são factóides ou denúncias falsas. E quando digo falsas quero dizer que ou não existem ou são episódios corriqueiros que são colocados como manchetes. E isso é desmontado com facilidade pela falta de consistência e em meia hora na Internet.

Jornal Brasil Atual – Você veio de longa experiência de jornal impresso, trabalho na Folha de São Paulo e saiu de lá para ter um espaço que você não estava tendo? Você já dominava a Internet?

Eu fui o primeiro da minha geração a trabalhar com Internet. Nos final dos anos 80, a empresa Dinheiro Vivo foi a primeira a trabalhar com informações online. Em 90, fomos os primeiros a trabalhar com emails, pelo sistema notes. Em 2003, fui o primeiro a trabalhar com um sistema de redes sociais, onde as pessoas discutiam políticas públicas fazendo um cadastro. Mas foi quando sai da Folha que vi na Internet um meio em expansão.

Jornal Brasil Atual - Você considera a Internet como o meio democrático então?

Totalmente. Acabou aquele negócio do repórter dono da informação. Nos jornais, o repórter entrevista alguém e volta para a redação e edita o que ele irá publicar. Nos blogs se você faz isso, os leitores estão ali para antagonizar e se você publica algo leviano eles vêm e te “descem o pau”. Então, o jornalista deixou de ser o dono e passa a ser o organizador das informações, que é o papel que tem que ser.

Quando eu comecei o blog eu pegava essas manchetes sensacionalistas e denunciava. Hoje os leitores denunciam. O que infunde hoje não é mais o temor da grande imprensa é o ridículo que elas podem passar.

O Globo é o maior exemplo de como a imprensa escrita foi abandonada pelo público. A CBN tem uma bela estrutura de rádio, o G1 é qualificado, mas o O Globo depende do impresso e virou um pasquim de quinta categoria. Porque depende do papel exclusivamente e isso não interessa mais.

Está havendo uma adequação dos veículos, como a editora Abril. A Revista Veja, por exemplo, que depende de assinaturas está ciente que isso é decadente e resolveu montar um portal para trabalhar informações diárias. Mas isto é uma coisa que eles nunca fizeram e ainda vão competir com G1 e UOL sem ter a menor vocação. Então não tem pé nem cabeça isso. A Folha é outra, mas pode ser salva pela UOL. O Jornal do Brasil acabou agora é só online. A realidade está aí.

Com informações da Rede Brasil Atual