segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O segundo turno e a revolução democrática no Brasil


São importantes análises que demonstrem o amadurecimento do PT, e da esquerda como um todo no Brasil. Sim, ainda temos os radicais e os aloprados de sempre - a realização do segundo turno é um recado por maior probidade pra esse pessoal que acha que em Brasília é farra - mas boa parte da esquerda dá sinais de amadurecimento, unindo quadros novos e já "antigos" na política nacional, como Eduardo Campos, Tarso Genro, Alessandro Molon, Lindberg Farias, Gulherme Cassel, Cristovam Buarque, Elvino Bohn Gass - talvez possibilitando assim, visualizarmos alternativas que possam construir um novo caminho baseado em novos grupos de centro-esquerda que superem os erros cometidos pelo Trabalhismo Inglês e pela Social-Democracia, baseando-se nestes referenciais teóricos e na própria história política e construção da esquerda no Brasil, amadurecendo a democracia, o debate, o republicanismo, a efetivação dos direitos fundamentais e o prosseguimento de políticas públicas que fizeram grande diferença nos últimos anos.

Coloco aqui texto de Emiliano José, postado no RS Urgente. Negritos são meus:

O resultado do primeiro turno indica que toda a nossa militância política, a do PT e de todos os partidos aliados, teremos que ir à luta para garantir a continuidade da revolução democrática em andamento no Brasil, elegendo Dilma contra Serra. O governo Lula colocou em marcha essa revolução, depois da eleição de 2002. Não foi até agora um processo simples. Não o será daqui para frente. É, no entanto, uma revolução inédita no Brasil, e que, levada adiante, pode assegurar a construção de uma nação não só poderosa economicamente, como já o somos, como também, e sobretudo, uma nação justa, que modifique nossas tradicionais estruturas voltadas à concentração de renda e à desigualdade, ainda das maiores do mundo entre nós. Uma nação que democraticamente incorpore em profundidade a presença do povo brasileiro, que pense o desenvolvimento sempre em razão da maioria, e não voltado a atender aos interesses de uma minoria. Por tudo isso, será essencial que nos coloquemos todos em campo, insistindo na importância de levar adiante tal revolução.

Essa revolução, que será de longo curso, já quebrou alguns paradigmas. O primeiro deles, talvez, o de imaginar o glorioso dia da revolução, como muitos de nós imaginávamos acontecer, dia em que o paraíso se estabeleceria, e as estruturas antigas desmoronariam como que por encanto. Não pensávamos a longo prazo. Não pensávamos como Gramsci na guerra de posição. Imaginávamos sempre a guerra de movimento, a conquista do Palácio de Inverno. Advogávamos, muitos de nós, o corte abrupto, súbito, a tomada do poder, a ditadura do proletariado, e então, tudo se faria, com violência se fosse o caso, e sem democracia. Sob a democracia, então denominada burguesa, não seria possível promover transformações na vida do povo.

O governo Lula provou o contrário. A guerra de posição, se me permitem a metáfora, foi caminhando, e promovendo conquistas extraordinárias. E essas conquistas levaram sempre em conta as necessidades, os direitos do nosso povo, especialmente do nosso povo mais pobre. Depois de Vargas, este foi o primeiro governo a novamente pensar no povo brasileiro mais pobre, e o governo Lula, para ser verdadeiro, foi muito mais amplo no esforço de garantir a presença do povo brasileiro, e insista-se, do povo mais pobre, na dinâmica de desenvolvimento do País, à Celso Furtado, que é sempre bom lembrar os grandes pensadores, e Celso é um dos maiores deles. Aqui, a revolução democrática derrotava outro paradigma – o paradigma tecnocrático e com origem nas classes dominantes, de que era primeiro necessário crescer para depois então distribuir renda.

Vargas, para não sermos injustos, pensou um projeto de nação, e desenvolveu economicamente o País à base da idéia da inclusão dos trabalhadores urbanos, e não seria justo dizer, à FHC, que toda aquela experiência deveria ser negada sob o rótulo simplista de populismo. O governo Lula, no entanto, no leito da revolução democrática, foi muito além, e por isso incorporou à vida, à cidadania coisa de mais de 30 milhões de pessoas, retiradas da miséria absoluta, retiradas da condição do não ser. Incorporou com políticas públicas ousadas, enfrentando o apetite da grande burguesia, das classes dominantes, e até os preconceitos do esquerdismo infantil, que não aceita a melhoria das condições de vida do povo senão pelo processo do corte abrupto, como se esse corte fosse possível nas condições brasileiras. E enquanto ele não se dá, essa esquerda permanece imobilizada. A idéia, tão acalentada pela esquerda, da criação de um mercado de massas, concretizou-se sob o governo Lula, sob a revolução democrática em andamento.

Claro que essas transformações, efetivadas pelas políticas públicas em andamento, que vão do Bolsa Família à recuperação do salário mínimo, e passam pelo Luz para Todos, pelo Pronaf, pelo Prouni, para lembrar alguns aspectos dessas políticas, foram feitas à base da extraordinária coragem e determinação do presidente Lula e, também, de sua fantástica capacidade de negociação. E Lula, aqui, quebrava outro paradigma nosso, da esquerda: o de que tudo se conquista pelo confronto. Lula aprendeu, na vida sindical, e depois levou esse ensinamento para a política, que é sempre melhor uma boa negociação do que uma greve. Que a greve pela greve não interessa. Na política, nunca perdeu o rumo, nunca deixou de olhar para os mais pobres, em momento algum. Mas, soube dar um passo adiante, dois atrás, depois três adiante, tendo como objetivo a melhoria de condições de vida do nosso povo.

O governo Lula teve a coragem de colocar na agenda política brasileira as questões da luta pela igualdade racial, pela emancipação feminina, pelos direitos humanos e por um meio ambiente equilibrado, temas caros a uma esquerda renovada e democrática. Temas da revolução democrática. Recentemente, os direitos humanos, abrigados no Plano Nacional de Direitos 3, sofreram um bombardeio de setores conservadores, como se tal plano fosse apenas uma iniciativa do governo, e não resultado de uma ampla e democrática conferência nacional. E por falar nisso, outro aspecto colocado na agenda política pelo governo Lula foi o da participação popular. Contribuiu decisivamente para a realização de conferências nacionais que mobilizaram milhões de pessoas e que contribuem decisivamente para a elaboração das políticas públicas do governo. Na democracia atual, reclama-se o crescimento da participação direta. Não é mais possível pensar apenas no seu caráter representativo.

Quando falo da capacidade de negociação do presidente Lula, não desconheço sua ousadia quando necessário. Esses temas todos não são fáceis de serem apresentados à sociedade. Quando Lula vai, por exemplo, a uma conferência de LGBT, não só legitima o direito à diversidade, quanto enfrenta o pensamento conservador, que ainda tem força em nossa sociedade. Lula, mesmo que não tenha tido uma formação clássica de esquerda, foi ao longo da vida, e do governo, assumindo posições da esquerda contemporânea, tomando atitudes próprias de uma esquerda renovada. Foi ao longo do governo um extraordinário dirigente da revolução democrática em curso, que orgulhou a todos nós. Sobretudo porque, insisto, em momento algum vacilou em relação à prioridade das políticas públicas, que deveriam estar voltadas, como estiveram, para a melhoria das condições de vida do povo brasileiro.

Essa não é, como se sabe, como já disse, uma caminhada fácil. Chegar a isso exigiu muita luta. Confesso que alimentei ilusões de um debate de bom nível sobre o Brasil nessas eleições. Especialmente porque olhava para o passado de Serra, e imaginava que ele tentasse ser digno dele. Penso no passado de resistência à ditadura e de seu papel como ex-presidente da UNE. Até de sua capacidade de formulação intelectual. Enganei-me. Serra assumiu no primeiro turno posições próprias da extrema-direita, lamentavelmente. E escondeu o seu programa neoliberal, como escondeu o próprio Fernando Henrique Cardoso. Preferiu ser um udenista tardio, um Lacerda do novo milênio. Lacerda foi a tragédia, Serra a triste, melancólica farsa.

Quem sabe, no segundo turno ele consiga travar um debate de melhor nível. A mídia hegemônica, outra vez, aquela das três famílias, ou das poucas, reduzidas famílias, fez o que podia e o que não podia para desacreditar Dilma Rousseff, para apresentá-la como uma candidata sem condições, tentando sempre envolvê-la em escândalos. Dilma cresceu durante a campanha, desenvolveu sua capacidade de argumentação, enfrentou bem o seu principal adversário. Apresentou o programa da revolução democrática, baseada naquilo que foi realizado pelo governo Lula Agora é enfrentar o segundo turno com muita firmeza. Em duas eleições demonstramos nossa capacidade. E vamos também demonstrar nas deste ano.

O segundo turno permitirá uma discussão mais aprofundada do nosso projeto. Devemos dizer que a revolução democrática deve caminhar mais. Sempre e sempre com base na democracia, na participação cada vez mais consciente do nosso povo, e não apenas nas eleições, mas também nestas, sempre. Insistir que nosso projeto pretende garantir mais e mais a distribuição de renda. Combater a desigualdade social profunda que ainda nos afeta. Ir fundo na revolução educacional iniciada nos primeiros oito anos. Assegurar o desenvolvimento sustentável. Crescimento econômico a taxas altas não pode nos inebriar e nos levar a uma política que não leve em conta a importância da preservação do meio ambiente. Enfrentar de peito aberto, com firmeza e capacidade, a questão urbana brasileira, especialmente a das médias e grandes metrópoles, que condensam nossos principais problemas nos dias de hoje.

Segundo turno é outra eleição, costuma se dizer, e com razão. Não está posto que os votos dados a Marina, mesmo que eventualmente o PV venha a apoiar Serra ou que Marina também o faça, se transfiram para o candidato tucano. Seguramente, tais votos têm um claro pendor progressista, ao menos uma grande parcela deles. E penso tendem a migrar em sua maioria para a candidatura Dilma. Ou, dito de outra forma, tendem a optar pela revolução democrática em andamento no Brasil. Claro que isso pode parecer apenas expressão do meu pensamento desejoso, e de alguma forma o é. Mas, também, é parte da análise de outras situações de segundo turno.

O povo brasileiro adiou a sua decisão, quem sabe para avaliar melhor o quadro, como o fez nas duas eleições de Lula. E agora, como agiu em relação a Lula, penso, no segundo turno também elegerá Dilma para não perder tudo que conquistou ao longo dos oito anos de governo Lula. Nossa militância, no entanto, sabe que deverá estar nas ruas, defendendo com toda firmeza o nosso projeto, a revolução democrática que está mudando a vida do povo brasileiro.

Imagem: Reflexões sobre a América Latina, de Wilson Alves

sábado, 2 de outubro de 2010

A vida não para, a história é agora

O porquê de votar em Tarso Genro neste domingo

Tarso comandou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, foi Ministro das Relações Institucionais,Ministro da Educação, Ministro da Justiça.

Na Educação, tornou possível o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, expandindo as escolas técnicas federais, o que é um caminho imprescindível para a superação da baixa qualidade da mão-de-obra brasileira e garantia de melhores oportunidades de emprego. Também criou o ProUni, que está trazendo para a educação superior mais de 700 mil jovens de baixa-renda (70% com bolsa integral) e forma em 2010 os primeiros 425 jovens médicos graças ao programa. Comentando sobre o Programa, Lula disse: Não sei se até o dia 1º de janeiro vamos ter outra fotografia mais bonita do que essa para justificar a nossa passagem pelo governo. Porque o Brasil historicamente foi governado e pensado para atender uma pequena parcela da sociedade. Dava-se de barato que uma parte da sociedade tinha direitos e que poderiam fazer curso de doutorado, de graduação e de mestrado, e outra parte que estava predestinada a terminar o ensino fundamental, com muito custo fazer o secundário, e muito mais custo ainda arrumar um emprego. A revalorização das universidades públicas foi fundamental durante o governo Lula, tanto recentemente reitores de universidades federais divulgaram o manifesto Educação – O Brasil no Rumo Certo


Na Justiça, Tarso reestruturou a Polícia Federal e lançou o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, destacando a valorização dos profissionais de segurança pública, a reestruturação do sistema penitenciário, o combate à corrupção policial e o envolvimento da comunidade na prevenção da violência. Para o desenvolvimento do Programa, o governo federal investirá R$ 6,707 bilhões até o fim de 2012. O Pronasci tem uma dimensão nunca antes vista no combate à violência, irradia-se para diversas áreas, desde as Unidades de Polícia Pacificadora que vêm pacificando diversas regiões do Rio de Janeiro e consequentemente fazendo valer a presença do Estado nestas áreas historicamente relegadas a um poder paralelo, até programas como o Viva Voz. Além disso criou a Comissão de Anistia que realizando as Caravanas da Anistia busca efetivar os preceitos da Justiça de Transição, seguindo o melhor da jurisprudência internacional, como o defendido pela Corte de Direitos Humanos da OEA.

Focando agora no Rio Grande do Sul:

Há um ponto muito simples que é relegado pelos eleitores (em grande parte por desconhecimento) mas que deve ser colocado na comparação da candidatura de Tarso com a de Yeda e de Fogaça: a coordenação de campanha e a construção dos projetos de governo.

O responsável pela campanha de Tarso é Flávio Koutzii, homem que deve servir de exemplo para o Legislativo gaúcho e nacional (aqui entrevista na qual ele analisa o PT dos últimos anos).

A campanha de Yeda é coordenada por Ricardo Lied, envolvido, dentre outros, no recente escândalo de espionagem realizado de dentro da Casa Militar, “o nome de Ricardo Lied, ex-chefe de gabinete da governadora, hoje trabalhando na coordenação da campanha da mesma, aparece nos pedidos de 'investigação' que eram feitos ao sargento César. Tudo em nome da segurança da governadora, é claro, incluindo aí o 'perigoso' filho, de oito anos de idade, da deputada Stela Farias (PT)" (mais aqui). "Em setembro de 2009, a Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Porto Alegre ajuizou ação civil pública de responsabilidade por atos de improbidade administrativa contra Ricardo Lied e dois delegados de Polícia do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico, por violação do sigilo profissional. No dia 14 de julho de 2009, eles informaram ao então Diretor-Presidente do Detran, Sérgio Luiz Buchmann, que iriam realizar busca e apreensão na residência de seu filho. Para a Promotoria, 'os três colocaram em risco o resultado da diligência futura'. Conforme a petição inicial, Ricardo Lied e os delegados violaram o artigo 11, caput e inciso III, da Lei nº 8.429/92, estando sujeitos às sanções do art. 12, inciso III, da mesma Lei, que prevê o pagamento de multa civil e a suspensão dos direitos políticos. Não é a única acusação de violação de sigilo que pesa sobre Lied. Ele também foi acusado por Adão Paiani de ter usado o aparato de segurança do Estado para espionar o ex-deputado Luis Fernando Schmidt (PT), candidato a prefeito de Lajeado, em 2008. Documentos revelados agora, após a prisão do sargento César Rodrigues de Carvalho, que atuava como segurança da governadora Yeda na Casa Militar do Palácio Piratini, confirmam o envolvimento de Lied no caso. Lied também foi flagrado em conversas suspeitas com o ex-presidente da Câmara Municipal de Lajeado, Márcio Klaus (PSDB), preso antes da eleição de 2008 sob a acusação de compra de votos" (mais aqui)

A coordenação da campanha de Fogaça é oficialmente de Mendes Ribeiro Filho, só que devido às pesquisas...“A página 8 de Zero Hora da última quinta-feira (dia 9) pode vir a ser uma das mais significativas de toda a disputa eleitoral pelo governo do Rio Grande do Sul em 2010. No alto da página, lê-se: Nova cartada – Campanha de Fogaça se rende e convoca Padilha(...)Quando foi ministro dos Transportes do governo FHC, foi alvo de suspeitas de superfaturamento de obras cujo desfalque aos cofres públicos chegou à casa das centenas de milhões de reais. E foi justamente por essa fama que a campanha de Fogaça resistiu o quanto pode em tê-lo por perto. Ainda na página 8 de ZH, pode-se ler que “líderes do PMDB afirmam que Fogaça…resistiu até onde podia à idéia de envolver Padilha na campanha. A intenção principal seria evitar, em um eventual governo, a partilha de cargos com o deputado – que é investigado pelo Supremo Tribunal Federal por suspeitas de envolvimento em irregularidades apuradas pela Operação Solidária". Mas apesar de tudo, Padilha continua muito poderoso. Tanto que ao noticiar sua entrada em definitivo na campanha do PMDB, ZH diz que "Fogaça se rende". Como assim, “se rende”? Por que um candidato a governador precisaria “se render” a alguém que é seu companheiro de partido e ocupa uma das principais funções do diretório estadual? (mais aqui)


Sobre o programa de governo:

O programa de governo de Tarso Genro e Beto Grill foi construído de forma completamente diferente ao "tradicional", realizaram-se diversas Caravanas Pelo Rio Grande organizando encontros para debate de propostas. Pro pessoal que gosta de propagandear democracia direta: se liguem, isso aqui é uma ideia excelente de mobilização democrática e construção popular de parâmetros para futuras decisões de governo, invistam nisto. “Ao longo dos últimos meses reunimos experiências, visões, classes sociais, universidades, sindicatos, associações empresariais, movimentos sociais, entidades, cooperativas, ONGs e governos, através das caravanas, reuniões, plenárias, seminários e debates realizados por todo Estado. É hora de pensar muito no que foi dito e no que precisamos fazer. Com as Caravanas Pelo Rio Grande, que contaram sempre com a presença do nosso candidato, Tarso Genro, e uma série de outras formas de participação, fomos a todas as regiões do Estado, reunimos todos os segmentos sociais e temáticos, criamos ambientes e redes de participação direta para ouvir, Recepcionar e montar uma proposta de governo com a marca da sociedade gaúcha. É emocionante receber em mãos uma pequena carta com anotações que sintetizam os anseios de toda uma comunidade ou uma ideia postada no site com os sonhos de uma jovem. Assim como documentos mais acabados de associações, de representantes da sociedade organizada (página 1)”

O PMDB de Fogaça deu sustentação ao governo Yeda e agora quer se apresentar como candidatura de mudança, em março Marco Weissheimer escreveu: Será curiosa a relação entre PMDB e PSDB na campanha eleitoral. O que o PMDB dirá do governo Yeda? Que é um governo corrupto? Que paralisou o Estado? E o que Yeda dirá do PMDB? Que é um partido ingrato e insaciável? Que é um partido que também está atolado em denúncias de corrupção no Estado? Quem pacificará o clima entre PMDB e PSDB na campanha eleitoral? Um sabe muito da vida do outro. Da vida oficial e da clandestina. O que, afinal, distinguirá Yeda de Fogaça na disputa ao governo do Estado? (mais aqui)

Fogaça investiu mais em publicidade do que em Saúde, o que me espanta é o autoproclamado “povo mais culto do Brasil” não se rebelar contra isto. Ainda há a questão de improbidade administrativa quanto à contratação do Instituto Sollus para o gerenciamento do Programa de Saúde da Família. Talvez a mais importante contribuição do governo do PT para Porto Alegre tenha sido a construção do Orçamento Participativo, com Fogaça ocorre o desmanche deste projeto de caráter democrático e popular na tomada de decisões políticas. Em março, Paulo Muzzel escreveu aqui: "Desde 2005, mas especialmente a partir de 2007, o OP entra em série crise. Grande aumento do número de demandas não atendidas, redução do número de participantes das plenárias, descaso do governo com a prestação de contas. Em 2009 chegamos ao absurdo: o boletim de fevereiro/2010 de CIDADE informa que o governo ainda não prestou contas das demandas atendidas do plano de investimento/2009. E mais: em pleno mês de março, ainda não editou o documento com as demandas do plano de investimentos de 2010!!

Consultando os registros do OP confirma-se totalmente o que afirma CIDADE. No período do “pico” do funcionamento do OP – o quadriênio 1997/2000 – o governo municipal se comprometia atender em média cerca de 400 demandas por ano. Efetivamente atendia um percentual da ordem de 95%, o que significa dizer cerca de 380 demandas/ano. Entre 2005 e 2008 das cerca de 200 demandas anuais, são atendidas pouco mais de um terço, ou seja, algo em torno de 70 ou 80 demandas por ano. Conclui-se que o ritmo de atendimento das demandas no governo Fogaça reduziu-se a menos de um quinto comparado com o que era realizado há pouco mais de dez anos atrás. E em 2008 o colapso: apenas 12% das pouco mais de 200 demandas foram atendidas! CIDADE informa, também, que em 2008 apenas 8% dos investimentos se destinaram ao atendimento das demandas do OP. Como a taxa efetiva de investimento no orçamento municipal é hoje de cerca de 5%, significa dizer que o OP responde por apenas 0,4% da despesa total da Prefeitura. Em outras palavras: 99,6% das despesas do orçamento da Prefeitura independem, não passam por decisões do OP."

Só mais uma questão sobre Fogaça: ele brincou com aquele papo de imparcialidade ativa né? Prefiro acreditar que sim, porque do contrário perdeu o respeito. “Imparcialidade ativa não é uma posição em cima do muro. É uma posição altamente proativa, efetiva, em favor da nossa eleição aqui no Rio Grande do Sul. Uma posição extremamente corajosa inclusive”.

Sobre Yeda não há muito o que falar, não vou me estender muito mais por aqui. É uma pena para o estado a forma como o PSDB gaúcho se comporta e enxerga o republicanismo.

Um governo de Tarso Genro e Beto Grill promete ser um governo de coalizão. O PT aprendeu com os erros do passado a valorizar mais os aliados, atuando contra seu próprio isolamento. O caráter democrático e popular, desde as Caravanas para elaboração do projeto de governo é fantástico e deve ser um ponto importante para a decisão de amanhã, o lançamento da Carta aos Gaúchos e Gaúchas e o Manifesto da Cultura, assim como o vínculo de Tarso com a segurança e a educação. O Rio Grande do Sul pode se tornar o estado modelo para aplicação do Pronasci, renovando as políticas de segurança pública no estado e no Brasil. Para corroborar a decisão de amanhã, alguns apoios à candidatura Tarso-Beto:

Juristas e professores elogiam Tarso Genro e pedem continuidade de políticas na Justiça


Campanha de Tarso recebe apoio de juristas e vítimas da ditadura


Artistas, músicos e intelectuais assinam documento em apoio a Tarso

Ao longo dessa campanha, fizemos muitos gestos. Caminhamos por esse Rio Grande e palmilhamos todas as regiões. Nós vimos o encantamento e a consciência política desse estado ser reavivada em torno do nosso projeto. E esta consciência política, ela repousa no coração e no espírito de cada um de nós. Que se transforma em coletivo e que se transforma, portanto, numa ampla maioria popular que sabe o que quer, que sabe para onde vai e que vai construir um Rio Grande do Sul melhor para todos.

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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Uma sugestão como forma de respeito e afeto


Não posso deixar de postar texto apaixonado de Katarina Peixoto para este domingo, já postado pelo Idelber Avelar aqui e pelo Marco Weissheimer aqui. Eu gostaria muito de escrever sobre o próximo domingo, mas não consegui tempo, talvez amanhã. Os negritos são meus.

Uma sugestão como forma de respeito e afeto

Por Katarina Peixoto

Tenho muita coisa a dizer e algumas a sugerir, e agora é madrugada e eu tô podre de cansada. Mas este é um pedido de voto, e um compartilhamento de um abraço em cada um e cada uma. Inclusive e bem de muito naqueles meus amigos que não votam em quem eu voto. Também para vocês eu escrevo, não para pedir voto, exatamente.

Mas sabem aquele oboé emendando os movimentos da Pastoral de Beethoven? Aliás, vocês por um acaso já pensaram que aquele maluco fez uma sinfonia em que a imaginação não surrupia a música em nem um milésimo de segundo e nos devolve um mundo como semeadura e colheita, assim, guiados por um oboé? Pelo menos não ultrapassa a fronteira, porque a Pastoral pode ser goiaba, às vezes, mas é linda e hepática. Luminosa, como a primavera, mesmo que eu tenha asma.

Então é o seguinte: sem ufanismo nem lulismo nem petismo, vivemos num outro país. Mas não é de mito que quero falar. Tem um monte de coisas sérias que interpelam o atual estado de coisas, e o meio ambiente (não o da Arca de Noé, obviamente), importa muito. A experiência Lula e as mortes e desaparições do último período produziu cicatrizes que não apenas doem, como fornecem um certo charme sobrevivente. Sobreviver é tão insularmente determinado que ter charme é o mínimo que se exige, enfim.

Se você não vota em Dilma, não tem problema. Isso não o impedirá de sonhar e projetar um futuro. Se você detesta a Dilma e o PT, problema menor ainda. O PT, penso eu, meio que acabou. Tudo tem um custo, o que jamais se reduz a um preço, na vida. Então, isso não impedirá de você confiar que as instituições e o futuro serão mais tranquilos.

A Dilma não é somente séria. Não é somente republicana e workaholic. Não é apenas mineral em termos de caráter e força. Ela é nossa, viu? Ela também é música, numa palavra.

Chega a ser assustador pegar alguns dos artigos e ensaios de intelectuais, agentes da finança global e analistas econômicos heavy a respeito de nosso, brasileiro, futuro. Muitos deles estão na Carta Maior e outros, mais entusiastas, como os do Financial Times, deixariam alguns artigos da Caros Amigos à sua direita. O que não é exagero é que este ano o Brasil tem a escolha mais cara do Planeta a fazer: 20 trilhões de dólares, do Pré-Sal.

Nossos filhos poderão viver num país como aquele que eu, na minha adolescência, via como muito distante.

E isso sem virar a China. E sem a barbárie desigual da Índia. Com SUS (quero crer melhor), com pesquisa, universidade, escolas, IPEA. SEM MISÉRIA.

Pode-se pensar que uma paisagem é objeto de viagem hippie. Minha aversão aos hippies impede essa frase de fazer sentido: o que faz sentido é a paisagem como objeto de vida real. De coisa feita de carne e, agora, cimento. Uma paisagem de palafita virar cimento e saneamento.

Saber que ali, logo ali, naquela parada de ônibus, você não verá um menino com lombrigas saindo pelo ouvido.

Não é um paraíso, mas já é algo menos distante da dignidade.

Quem está contra a Dilma, em termos de relação de força são basicamente as 6 famílias e um setor do PSDB e o Dem – motivo de orgulho para nós, óbvio. O grande capital financeiro, o grande capital industrial e produtivo (agrobusinesse e construção civil), a indústria naval e o universo de pequenos e médios está conosco.

Não é delírio algum dizer que a mídia das 6 famílias assumiu uma posição de vanguarda tão delirante, enquanto delirante, como algumas vanguardas troskas do alasca, na década de 60. Um comportamento meio vulnerável à tal da “moral bolche”, uma flexibilidade comportamental que opera a despeito da realidade e militantemente contra a verdade.

Eu, Katarina, do auge de minha relevância impressionante, acho isso ruim. Preferiria que as forças político-partidárias fossem mais orgânicas e programáticas. A experiência Lula desarrumou as coisas e nós estamos no meio da bagunça.

É por isso que eu escrevo, afinal, pedindo uma certa paciência. Se você não tem candidato a proporcional, seguem as minhas sugestões, de gente que sobreviveu à bagunça, com charme, coluna vertebral da moralidade e dos compromissos de pé, clareza sobre quem é o inimigo e um amor que beira o incompreensível, pela militância e pelo equilíbrio das relações injustamente desiguais que marcaram o Brasil antes dos 20 trilhões.

São eles meus amigos, alguns mais, outros menos. E nós, aqui, e nossas famílias, votarão neles.

Henrique Fontana (1313) – Moço que abdicou do caminho mais fácil da família para obedecer ao seu coração e a sua mente privilegiadamente inteligente. Eu não acredito que inteligência é mérito, mas a inteligência de Henrique é assustadoramente real. E ele não a vendeu e não a vende. Ele respeita e não lava. Ele negocia e defende. Não vende, não compra, não tira onda da minha cara. Além disso ele é patologicamente apegado à praça. Uma coisa assustadora, mas necessária, enfim. É um deputado federal que merece ser reeleito, para o bem, a construção e não o melhor do mundo, mas o melhor do congresso nacional. Isso já é muita coisa. Para mim é necessário e suficiente.

Elvino Bohn Gass (1320) – Moço de família alemoa de Santo Cristo, católico não reacionário nem das libertaçã. É o sujeito mais decente e sério que conheci e conhecerei. Compromissado com a agricultura familiar, a justiça tributária, o republicanismo e a democracia. Ele é tão sério que chego a pensar que seu futuro gabinete terá de contratar um psiquiatra, caso ele chegue a Brasília. Sofrerá no congresso, mas sua determinação e seriedade não deixam, senão os psicopatas e sicopantas, indiferentes. Eu tenho orgulho também de ele ter se mantido de pé, quando sentia dor e perplexidade ouvindo os áudios e lendo as transcrições das peças judiciais vinculadas à corrupção do Detran e da então prefeitura de Canoas. Ele sofria, não celebrava. E muitas vezes não conseguia a agressividade toda para inquirir, dada a perplexidade diante da bandidagem. Ele é raro. E necessário.

Stela Farias (13113): candidata a estadual, que com Elvino enfrentou a turma que andou assaltando o governo do estado nos últimos 7 anos. Sob vários aspectos ela dispensa apresentações, porque foi prefeita, porque é bastante conhecida. Mas este pedido de voto reside na confiança nela. Pelo seguinte: Stela é uma guerreira, uma companheira, uma mente e uma energia da natureza operando na política. Ela, junto ao Elvino, são quadros miraculosamente republicanos, cuja falta de maldade chega a preocupar. Mas isso não é elogio de inocência: ela é um puta quadro nosso. Professora, mãe, militante, workaholic, corajosa contra os que ladram e mordem.

Raul Pont (13400): O político sem qualidades, porque só as tem como virtudes. Então, não carece de qualidades, mas de voto na urna, para ser consagrado. Raul é uma honra e um orgulho, uma confiança e uma alegria. Sujeito que, assim como o Henrique, gosta tanto dessa loucura que a transforma numa história. E que, de uma maneira só sua, desta vez, respeita a história e a leva a sério em cada gesto e em cada combate. Poder votar em Raul Pont é uma das razões para acreditar que faz sentido viver em sociedade, apostar na generosidade, escutar e respeitar.

Tenho o maior orgulho e confiança nesses 4 companheiros. E acho que eles são todos os 4 figuras de que todos nós, e sobretudo aqueles que votam nos PTB e quetais da vida, necessitamos, em nome da república, da democracia e dos compromissos.

E como eu sou trabalhadeira mas não sou boba, seguem alguns vídeos animados para nós.

Um do último programa do Tarso. Eu peço encarecidamente que vocês o vejam todo, até o final. Estamos todos ali, desta vez não como oboé, mas como flauta transversa, informal, convicta.

Depois, o primeiro e definitivo programa da Dilma. O programa em que é tudo verdade, e nada mais nem menos que a integridade dela.

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Imagem: Auger, de Magritte