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sábado, 11 de dezembro de 2010

Fortalecimento de instituições republicanas e democráticas

Um dos grandes trunfos do governo Lula é ter aprimorado, fortalecido e criado mecanismos de democracia direta, como a Conferência Nacional de Segurança Pública, a Conferência Nacional de Comunicação e o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Democracia direta é fundamental para manutenção de instituições republicanas e democráticas, abaixo post do Marco Weissheimer do RS Urgente.


Clemente Ganz Lúcio - A transformação que nós precisamos fazer no país exige a construção de um novo "contrato social", de um novo acordo social. Na medida em que a estratégia de desenvolvimento passa por dentro do Estado, abre a possibilidade de nós construirmos uma nova aliança social capaz de garantir a longo prazo essa estratégia de desenvolvimento.

Viviane Senna - Todos nós aqui representamos pontos-de-vista diferentes, somos de segmentos diferentes e defendemos, muitas vezes, interesses diferentes. E isso não tem nada de errado, isso faz parte da fisiologia, e não da patologia de qualquer sistema democrático, O errado não é defender interesses, o errado é fazer isso de costas para o todo



A rica experiência de 8 anos do CDES



O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), órgão de assessoramento da Presidência da República, está completando oito anos de atividade. Neste período, empresários, trabalhadores, professores universitários, movimentos sociais, lideranças comunitárias e representantes da sociedade em geral debateram uma agenda de desenvolvimento para o país. Quem participou das reuniões e seminários promovidos pelo CDES teve a oportunidade de conhecer uma experiência ousada e original de participação da sociedade no assessoramento do presidente da República.

O Rio Grande do Sul terá a oportunidade de conhecer esse tipo de prática a partir de 2011, com a instalação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social em nível estadual pelo governo Tarso Genro. O desafio de coordenar a instalação do CDES gaúcho está nas mãos de Marcelo Danéris.

Infelizmente, a imensa maioria dos debates do CDES foi ignorada pelos meios de comunicação, o que privou a população de ter acesso a informações e debates valiosos sobre problemas do Brasil e propostas para superá-los. O CDES produziu um vídeo de 12 minutos para fazer um balanço deste período e mostrar um pouco do que foi feito. Dá uma ideia do tipo de debate e espaço de participação que pode ser aberto aqui no Estado a partir de janeiro. A direção é de Maria Velloso, com roteiro de Katarina Peixoto, edição de André Oliveira e locução de Clarissa Pont.

sábado, 16 de outubro de 2010

Tributação e desigualdade

Post do Raphael Neves do Politika. Links são do original. Negritos são meus.
Essa edição do Diplo Brasil tá boa mesmo, com artigos esclarecedores sobre política tributária.


O Le Monde Diplomatique deste mês tem vários artigos excelentes (comme d'habitude). Além da baita entrevista com Marco Aurélio Garcia, chamou minha atenção o texto de Fátima Gondim e Marcelo Lettieri, ambos auditores da Receita, "Tributação e Desigualdade". Pode ser chato para muitos, mas o tema é importantíssimo para todos. Vamos lá.

Quando flamenguistas e vascaínos concordam que os tributos são muito elevados no Brasil, eles também dizem que é preciso fazer uma reforma tributária. O que em geral não se discute é a forma de arrecadação desses tributos. E esse é o ponto fundamental. Coisa que gente do "Cansei" deixa passar batida (aliás, que tal fundarmos o "Pensei"?).

A forma de arrecadação diz respeito à quem paga e como paga. Segundo Gondim e Lettieri,
A partir da segunda metade da década de 1960 e até o final da de 1980, promovemos a instituição e expansão da tributação sobre o valor agregado (principalmente via ICMS), reduzimos os tributos sobre comércio exterior, fortalecemos a administração tributária, mas deixamos a redução das desigualdades sociais em plano secundário.
Pois bem, e o que acontece nos anos 90? Seguimos a "receita" neoliberal. Daí foi uma beleza. Se alguém já leu aquele artiguinho do John Williamson sobre o Consenso de Washington, vai encontrar lá no item 3 da receita de bolo o que se espera da reforma tributária neoliberal: aumento da base tributária. Em língua de gente, isso quer dizer que para atrair o grande capital internacional e ainda assim garantir a arrecadação (lembre-se da responsabilidade fiscal e do superávit) deve-se tributar mais atividades econômicas, sem necessariamente aumentar as alíquotas. Para não chatear os caras que iriam investir no Brasil, o governo deu uma colher de chá.
Vejamos as benesses para o "andar de cima", já no início do primeiro governo FHC: redução da alíquota do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas - IRPJ, das instituições financeiras, de 25% para 15%; redução do adicional do IRPJ de 12% e 18% para 10%; redução da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL, de 30% para 8%, posteriormente elevada para 9%; redução da base de cálculo do IRPJ e da CSLL ao permitir a dedução dos juros sobre capital próprio; isenção do imposto de renda sobre remessa de lucros e dividendos ao exterior, dentre outros. Além disso, a liberalização financeira internacional abriu novas oportunidades para a fuga de capitais e evasão fiscal por parte das elites, acentuando a desigualdade.
Por outro lado, a conta para o "andar de baixo" foi a seguinte:
O governo federal lançou o pacote fiscal, incluindo medidas para aumentar a arrecadação e assegurar o superávit primário, em 1999, de R$ 312 bilhões (3,1% do PIB): majoração da alíquota da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins, de 2% para 3%; ampliação da base de incidência do PIS/Pasep e da Cofins; elevação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira - CPMF (atualmente extinta), de 0,20% para 0,38%. Tudo incidindo sobre o consumo!
Quando se fala em tributar o consumo, lembre o seguinte. O rico compra um quilo de açúcar e paga o mesmo ICMS que o pobre. Por isso, o impacto é muito diferente sobre um e outro. Em 1996, a carga tributária indireta (isto é, sobre o consumo, e não a renda) sobre as famílias com renda de até 2 salários mínimos era de 26% de sua renda familiar. Em 2002, esse valor foi para 46%! Ou seja: o pobre deixava em 2002 quase metade da sua renda em impostos sobre consumo. Para famílias com renda superior a 30 salários, a carga era de 7,3% em 1996 e chegou a 16% em 2002. E para quem vai a grana? O artigo no Diplô traz alguns números. O pagamento de juros da dívida pública recebeu, em 2008, somente do governo federal, 3,8% do PIB, enquanto o Bolsa Família custou apenas 0,4% do PIB!

Dos tributos sobre consumo, achava a CPMF menos problemática porque incidia sobre movimentação financeira. Mas foi justamente ela a cair. É preciso repensar todo o sistema. Se os três candidatos com maior votação concordam com a santíssima trindade do câmbio, responsabilidade e metas de inflação, nós eleitores poderíamos saber ao menos como eles se posicionam em relação aos impostos. O pior é que a campanha eleitoral deixou isso de fora. Ainda estou para ver algum(a) candidato(a) assumindo o compromisso de desfazer esse nó e alterar o sistema tributário. Fazendo uma breve busca nos programas disponíveis na internet, apenas o de Marina menciona, ainda que de forma bem superficial, uma proposta de justiça tributária. Reduzir a desigualdade, esse deve ser o nosso lema.


sábado, 9 de outubro de 2010

Conservative spending cuts are worse than Thatcher's, says Alan Johnson

Texto do The Guardian. Links são do original.

David Cameron: Labour and Conservatives level in marginal seats

Alan Johnson launched a ferocious onslaught on the government's plans for deep and immediate spending cuts, warning they would "fundamentally alter our community" and inflict greater and more lasting damage on public services than Margaret Thatcher.

In an interview with the Observer, less than 24 hours after being appointed shadow chancellor by Ed Miliband, Johnson tore into the coalition's economic strategy, suggesting it heightened the risk of a double-dip recession.

He spoke out amid signs that ministers themselves were growing increasingly nervous at the effect their plans for £83bn worth of cuts – to be unveiled in 10 days' time – could have on jobs and economic activity.

While accepting that some cuts have to be made, and insisting that Labour will not oppose them all, Johnson said that 25% cuts in many departments' budgets, coupled with complex reorganisations of the NHS and police services, would cause joblessness and insecurity across the country.

Pointing to Ireland's descent back towards recession, he said: "We don't have to look far to see what the effect can be of cutting too deep too soon. Even if double dip doesn't happen, the way this coalition is implementing these changes will fundamentally alter our community and lead to a situation where we spend years trying to repair the damage.

"If you think of Thatcher in the 80s, the most she cut was 10%, and we are still feeling the effect of that in Hull, the city I represent."

Johnson, who was home secretary until the May election, said there was "no way" the Home Office could slash its budget by 25% and keep the network of neighbourhood policing. "You have not just got the cuts too quickly and deeply, you have got organisational upheaval in the police and NHS. All of this taken together is going to cause huge harm to our public services."

He said the fact that the chancellor, George Osborne, had given permission to the Bank of England to pump more economy into the economy in another round of so-called "quantitative easing" – coupled with gloomy employment figures from the US – was evidence of how fragile the economy was.

The shadow chancellor was Miliband's surprise choice for the post on Friday, as the new Labour leader brushed aside the claims of Ed Balls and his wife, Yvette Cooper. Balls and Cooper had called for Labour to back away from the party's commitment to halve the deficit over the next four years.

Johnson said he fully backed the existing policy, which struck a balance between bringing the deficit down and supporting growth. "I am a realist about this. If you are cranking up lots of interest on debt you need to bring the deficit down as fast as you can, consistent with jobs and growth and I think that is where the Conservatives have fallen down."

He brushed aside suggestions that he lacked the economic expertise and knowledge for the most important job in the shadow cabinet. "You don't need to be a professor of economics to be a Treasury minister," said Johnson, who left school at the age of 15. "I will do this job the way I have done other jobs. I would not pretend to be the greatest gift to the cabinet but I have done five cabinet jobs and I have done them OK.

"It is about getting up to speed very quickly and it is about listening to people. Particularly in this brief it is more about listening to people than reading up. I am not going to do an economics degree in the next few months."

Today the coalition appeared to be giving out mixed messages on the economy after the energy secretary, Chris Huhne, said cuts could be scaled back if economic conditions deteriorate. Later, however, the chief secretary to the Treasury, Danny Alexander, told the Scottish Liberal Democrat conference the planned cuts were "unavoidable".

Johnson said he strongly opposed the coalition's decision to withdraw child benefit from families with a higher rate taxpayer because it was "probably the most precious" of universal benefits.

He said he would look seriously at further action against the banks, including plans to increase the bank levy and target bonuses. "We should look at all of that. It is totally reasonable to look at that without in any way failing to realise the importance of financial services to our economy."

He added that people were angered by the unfairness that allowed bankers to receive massive bonuses at a time of spending cuts. "They believe that these huge disparities in wealth are wrong. We are at a time and in an era where people are questioning that much more than they would have done before and I think that is right."

Miliband's decision to offer him the job showed how much he wanted to unite the party, he said. "This was a hugely generous offer. Ed didn't have to make this offer to me, given the fact I was a prominent supporter of his brother during the election campaign.

"The jobs he has offered in the shadow cabinet show he wants to unite the party. So when he made the offer to me, how could you refuse that? It is a big, big job. It was so obviously a mark of the man and his determination to unite the party."

Tony Blair's former spin doctor, Alastair Campbell, said today that Miliband needs to develop a "proper economic narrative" if he is to take on the coalition credibly over cuts.

"A lot depends on what happens to the coalition and a lot depends on what happens to the Labour party," Campbell said. "When the cuts do start to kick in [he's capable of winning an election], providing we have got a proper economic narrative which isn't just about saying, 'We're against the cuts'."

Imagem: REUTERS, tirada daqui

domingo, 29 de agosto de 2010

Concentração de renda e análises socio-econômicas surrealistas

Colo aqui, ipsis litteris, post de Libertatum e abaixo comento. Os negritos são meus.

Concentração de renda: um embuste

Em uma sociedade livre, não há que se falar em concentração de renda, a amparar uma política pública de uma "distribuição de renda", seja por qual meio for. Em uma sociedade livre, fundada no princípio da não-agressão, e próspera, a renda já está distribuída no momento mesmo da troca dos títulos de propriedade.

Um estimado leitor trouxe-me para análise uma pesquisa do IPEA intitulada "Quadro de distribuição de renda não muda desde 1970, diz Ipea - País interrompeu processo de concentração de riquezas, mas desigualdade não diminuiu nos últimos 40 anos".

Considerando que pelo menos nos últimos vinte anos o país tem sofrido uma forte e crescente influência de políticas socialistas, uma notícia como esta poderia ser usada contra os seus autores, especialmente contra quem mais andou se utilizando dela para apregoar a sua ideologia e as suas receitas de desenvolvimento. Ponhamos uns parênteses aqui, para retomarmos este assunto lá na frente.

Com efeito, a campanha por uma distribuição de renda mais igualitarista - um conceito de corte tipicamente marxista, tem sido persistentemente o norte acadêmico em nossas faculdades, e dali para as publicações em geral e para a implementação das atividades e políticas dos mais variados órgãos públicos.

Em uma sociedade livre, não há que se falar em concentração de renda, a amparar uma política pública de uma "distribuição de renda", seja por qual meio for. Em uma sociedade livre, fundada no princípio da não-agressão, e próspera, a renda já está distribuída no momento mesmo da troca dos títulos de propriedade: Quando abasteço o meu carro, a minha renda está no tanque e a do proprietário do posto, em sua caixa registradora. E isto é tudo. Ambos estamos satisfeitos, ou de outra forma não teríamos fechado o negócio.

Pasme o leitor, mas os (pre)conceitos marxistas andam tão consolidados em nossa sociedade que não temos um termo próprio para designar uma operação de troca de títulos de propriedade; em vez disso, separamos esta operação única em duas etapas separadas, a "venda" e a "compra", e esta distinção vem bem a calhar para o estado arrostar para si o poder de regulá-las como se fossem suas concessões.

Pode ser que a oferta de gasolina seja uma atividade muito lucrativa, e que faça rico o dono daquele posto. Isto sugere que ele possivelmente venha a se tornar mais rico do que as demais pessoas de sua localidade. Todavia, em um cenário de plena liberdade econômica, isto não significa um ato de exploração, mas tão somente de aprovação popular, eis que as pessoas preferem abastecer seus veículos com o seu produto.

Mesmo que ele seja o único fornecedor das redondezas, ainda assim opera em regime de
ampla competição, pois todas as oportunidades permanecem abertas para que um futuro concorrente se instale e ofereça sua propriedade por um preço menor, ou que uma terceira figura apresente uma novidade tecnológica economicamente mais viável.


Quando o estado intervém sobre a propriedade daquele comerciante de combustíveis, seja por estipular-lhe um preço, seja por confiscar-lhe o produto das suas trocas, ele comete um ato de agressão que prejudica não somente o nosso varejista, mas toda a sociedade. No caso, o estado tanto frustra as estratégias de um possível futuro concorrente que pensava em oferecer um preço mais baixo (e preste muita atenção aqui: viável economicamente) bem como corta na raiz os estímulos para a criação de novas tecnologias de transporte e de combustíveis alternativos.


O preço constitui-se em valiosa informação para a sociedade. Quando o proprietário daquele posto cobra um preço que possa ser considerado alto pelos cidadãos em geral, mesmo inconscientemente ele está alertando a todos que o seu produto é raro, e deve ser usado com comedimento e para as necessidades mais importantes e/ou urgentes. Com isto, como explicado acima, ele também está avisando, mesmo sem querer, que outros fornecedores devem comparecer àquele mercado ou que alguém deve inventar uma forma mais viável de transporte ou de combustível.


Note o leitor como esta é uma atitude até ecológica! Dentro dos princípios de não-agressão, ninguém está proibido de usar a gasolina que adquire, mas consistentemente convencido de que precisa utilizá-la com sabedoria. É por isto que tenho afirmado: se você quer agir de forma ecologicamente correta, pense antes em agir de modo economicamente eficiente!

Entretanto, justo neste quesito o estado provoca ainda mais efeitos deletérios por conta da sua política redistributivista: ao estipular um preço mais baixo do que o mercado praticaria em um cenário de ampla liberdade, o estado estimula os cidadãos ao gasto frouxo do combustível, por fazer-lhes pensar que é abundante, e com isto podendo causar o risco de desabastecimento, cuja consequência poderá resultar em grande prejuízo aos cidadãos em alguma hora crucial em que precisariam dele e não providenciaram poupar. Que tal, por exemplo, pensar em um hospital sem diesel para o seu gerador de emergência, ou no médico que não tem gasolina para se deslocar até o seu paciente?


Tenha paciência, Sr leitor, porque a lambança ainda não acabou. Sabe o quê acontece quando a emenda acaba se mostrando pior do que o soneto? Lá vem o estado a tentar corrigir o seu erro com outros erros subsequentes, e a próxima expectativa neste caso é a de que implemente uma política de racionamento ou que submeta o consumo a uma requisição justificada por parte de cada um dos consumidores. Posso pedir licença para parar por aqui?

Sempre que alguém aceite tomar como ponto de partida para um debate um dado qualquer de concentração de renda, neste mesmo momento estará abandonando uma discussão autenticamente econômica para acumpliciar-se com a adoção de uma política socialista. Daí por diante, pode-se discutir tão somente o grau de agressão à sociedade pelo estado, só isto.


Caro leitor, não se permita à intimidação por conta dos títulos que ostentam aqueles que defendem a idéia de uma sociedade igualitarista ou de um limite imposto pelo estado para as diferenças entre as riquezas das pessoas. A rigor, não existe no Brasil a figura do economista, bem como não existem faculdades de economia. Na falta de um termo mais adequado, eu as denominaria de "planejadores estatais".


Com efeito, a grossa parte do curso dos bacharéis em economia, cuja grade compõe-se hegemonicamente de estudos sobre as obras de
Marx, Keynes e os teóricos da Escola de Frankfurt, consiste em estudos sobre políticas públicas. Quase não há interesse no estudo sobre as relações entre os particulares, a não ser justamente para aí encontrar alguma oportunidade de implantar alguma política intervencionista.


Antes que me tenham por prepotente, recorro à autoridade de
Ludwig von Mises para demonstrar que o conceito de concentração de renda não tem qualquer base econômica autêntica e portanto, não passa de um embuste. A quem quer que se dê ao prazer de ler Ação Humana ou qualquer outra de suas obras, perceberá que ele faz uso do termo "economista" com o significado de exclusão de todos os socialistas, inclusive os fabianos, como Keynes.


Sempre que perguntarmos a uma dessas pessoas qual o mal que existe em uma dada concentração de renda para a prosperidade de uma sociedade, elas simplesmente não saberão explicar. Isto porque, para elas, a perseguição de uma situação de igualdade material é um fim em si. Aqui é oportuno lembrar que o mote contra a desigualdade foi criado como uma alternativa ao fracassado apelo do empobrecimento alegadamente causado pela revolução industrial, e que, a olhos vistos, jamais se produziu.


Em linha contrária, podemos, sim, justificar como a concentração de renda desempenha um indispensável papel para a prosperidade de uma dada sociedade. Antes, todavia, vamos "lavar" este termo, para denominá-lo apenas de "riqueza" ou melhor ainda, de "poupança acumulada". Com a poupança, viabilizam-se os investimentos de médio e longo grau de maturação, tidos justamente como aqueles dos quais se esperam os maiores benefícios. A riqueza nas mãos de quem provou ser competente para geri-la provoca a produção de mais riqueza (e inclusão) para todos os demais integrantes de um determinado grupo social.


Se eu puder fazer uso de uma ilustração,
lembro de um ciclone. Imagine como em seu centro se concentra a maior energia e onde o vento flui com maior força e velocidade, enquanto as bordas, mesmo mais fracas, vão puxando as coisas ao redor e assim o fazendo crescer cada vez mais. O mesmo acontece , digamos assim, com uma virtuosa espiral de crescimento econômico. Algumas pessoas se fazem ricas antes do que as demais, mas é a riqueza delas o que justamente opera a inclusão das mais próximas, e a destas, para com as que lhes sucedem.


Não existe e jamais existiu uma sociedade igualitarista próspera, até porque o fim almejado de uma política de igualdade consiste em permanentemente tomar à força o resultado do trabalho honesto de quem se esforça por ele, desanimando-o, assim, irremediavelmente. Nas sociedades primitivas como as indígenas, todos são naturalmente iguais...e miseráveis. Nas sociedades socialistas, cria-se artificialmente uma concentração de renda a cargo do estado, a ser gerida por administradores públicos, que não possuem delegação de competência para a tomada das decisões mais cruciais, nem o talento para descobrir o que é mais urgente e necessário para a população, e enfim, nem sequer o empenho próprio para tanto.


Nos países sobre os quais se propagandeia uma diferença pequena entre a renda dos mais ricos em relação aos dos mais pobres, i.e. a Alemanha, é porque estes são muito bem educados e muito produtivos. O trabalho da maioria destas pessoas têm, em linhas gerais, um alto valor agregado, até um ponto em que as poucas pessoas pouco habilidosas, justamente por usufruírem de um mercado privilegiado - e até um certo ponto protegido pelo estado - também são bem aquinhoadas.

No Brasil, ao contrário, a população desprovida de qualquer habilidade profissional é extremamente numerosa, e a poupança é ferozmente deprimida pelo estado. Sem uma produtividade de alto nível, somos pobres trabalhando em serviços pobres para pessoas também pobres. Não admira, pois, que restem poucos ricos, e daí, tanta desigualdade.


Enfim, se algum significado útil pode ser dado ao termo "concentração de renda", este pode ser o de uma sociedade onde prevaleça a riqueza de alguns obtida por meio do uso da força agressiva própria ou promovida pelo estado.
Neste sentido, sim, podemos, adequadamente, enquadrar o Brasil, como havia alertado lá nos primeiros parágrafos, para definir um país onde as relações humanas voluntárias e mutuamente benéficas são extremamente deprimidas por guildas, sindicatos, conselhos de classe, partidos, leis de preços mínimos, leis de preços máximos, leis de distribuição de renda, leis de preços sociais, leis trabalhistas, leis previdenciárias e tanto mais."

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O que me parece:

A analogia do posto de gasolina demonstra o que acredito ser um dos grandes equívocos dos pensamentos políticos “radicais” (radical aqui sem qualquer juízo de valor, mas como propostas político-econômicas que estão em lados opostos)

O liberalismo, assim como o anarquismo, o anarcocapitalismo e o comunismo acreditam nas pessoas! Uma sociedade que se fundamente sob um “regime” liberal clássico, ou anarquista é linda, só que se desintegra rapidinho. E a luta pelo poder? Alguém se desenlaçaria do poder para que todos compartilhassem dele?

O comunismo falha ao acreditar que uma ditadura do proletariado realmente leva a uma sociedade sem classe. O liberalismo falha ao acreditar que a “mão invisível do mercado” destruirá os protecionismos, os trustes e cartéis, e que haverá uma eficiente cooperação. Esse papo do “laissez-faire” nunca me convenceu, foi necessário para fazer oposição às amarras do Mercantilismo, mas hoje já não cabe mais. (“Teses célebres, como a da mão invisível de Adam Smith, não duraram; a mão invisível era invisível porque não estava lá”, afirma Stiglitz. “Hoje, poucas pessoas acreditam que executivos de bancos, ao perseguir seus próprios interesses, promoveram o bem-estar da economia.” – Joseph Stiglitz aqui)

Uma ditadura proletária não leva à sociedade igualitária, ela se fortalece, se arraiga às estruturas de poder. Propagada pela URSS, a economia planificada afundou o leste europeu e parte da Ásia, estagnou o “motor produtivo” retendo a ambição inerente ao homem. O comunismo falha ao desacreditar no potencial benéfico de uma economia “liberalizada” (não sei se o termo está bem empregado, o utilizo para não passar a ideia de que acredito no neoliberalismo, mas acredito que um comércio mais “livre” é fundamental, principalmente relativo ao comércio internacional)

O autor reduz suas constatações a critérios mercadológicos (“Quando abasteço o meu carro, a minha renda está no tanque e a do proprietário do posto, em sua caixa registradora. E isto é tudo”). Sua “sociedade livre” me remete a um subúrbio estadunidense dos anos 50 com casinhas de grama bem aparada e carro na garagem. As pretensas análises sociais baseadas em critérios mercadológicos nos levam, por exemplo, à política de educação do governo Yeda Crusius que coloca crianças para estudarem em contêineres (e nossa arauta da dignidade, Dona Zero Hora, bate palmas aqui )

sábado, 28 de agosto de 2010

Concentração de renda e a dependência brasileira


Via Diplomatizzando, li post (esse) de Libertatum comentando sobre recente pesquisa do IPEA

Primeiro comento sobre a pesquisa e em outro post comento sobre o texto.

Quadro de distribuição de renda não muda desde 1970, diz Ipea

País interrompeu processo de concentração de riquezas, mas desigualdade não diminuiu nos últimos 40 anos

As políticas públicas de desconcentração produtiva e descentralização dos gastos e investimentos públicos dos últimos 40 anos não foram suficientes para mudar de forma significativa o quadro da distribuição de renda do Brasil. É o que conclui o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em comunicado divulgado nesta quinta-feira.

Com base no índice de Gini - que avalia a distribuição de renda, sendo 0 a distribuição ideal e 1 a maior concentração -, o Ipea constatou que o Brasil interrompeu um processo de concentração de renda, iniciado em 1920, mas, desde 1970, o quadro pouco se alterou em todo o País.

“No auge do ciclo de industrialização, por exemplo, o País registrou forte tendência à concentração da produção em poucos e contidos espaços do território nacional”, apontou o Ipea. Entre 1920 e 1970, o índice de Gini saltou de 0,65 para 0,84 em todo País, enquanto, na avaliação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita o índice saltou de 0,37 em 1920 para 0,49 em 1970.

A partir da década de 1970, avalia o Ipea, a evolução acelerada da concentração de renda foi interrompida, mas o quadro não mudou até 2007. “Esta segunda fase da integração dos municípios na participação do Produto Interno Bruto brasileiro manteve congelado o grau de desigualdade territorial dos PIBs municipais no elevado coeficiente de Gini de 0,86 entre 1970 e 2007, última informação oficial disponível.”

Para o índice de Gini dos PIBs municipais per capita, por sua vez, houve queda de 14,3% entre 1970 (0,49) e 2007 (0,42).

Regiões

A região Sudeste responde pela maior concentração de renda no País, com índice de Gini de 0,88 em 2007. A região, no entanto, é a única que apresenta processo de estabilidade no índice. Em 1970, o indicador estava em 0,89.

A região Sul, por sua vez, tem a menor concentração de renda, com Gini de 0,78. No entanto, o índice piorou nos últimos 40 anos, quando estava em 0,70.

“O índice de Gini decresceu 1,3% na região Sudeste (de 0,90 para 0,89), enquanto subiu 7,2% no Centro-Oeste (de 0,79, para 0,85), 11,5% no Sul (de 0,71 para 0,79), 3,5% no Nordeste (de 0,77 para 0,80) e 4,7% no Norte (de 0,76 para 0,80)”, completou o Ipea.

Segundo o levantamento, a concentração de renda aumentou nas pequenas cidades do País, com o índice subindo 18% entre 1920 e 1950, e mais 6,8% entre 1970 e 2007. “Os grandes municípios brasileiros registraram aumento acumulado de 10,8% entre 1920 e 1970 e queda de 9,8% entre 1970 e 2007”, comparou.

Em 1920, os grandes municípios tinham índice de Gini 48% maior que os pequenos, mas, em 2007, o indicador foi apenas 17,5% superior.

Mais ricos

O Ipea mostra que, em 2007, 1% dos municípios mais ricos do Brasil tinham PIB médio 3,3 vezes superior à média nacional. O número é três vezes maior que o observado em 1920, quando os PIBs dos ricos era 1,1 vez maior que a média nacional.

Na outra ponta da tabela, os 60% municípios mais pobres têm PIB equivalente a 2,5% da média nacional. Em 1920, o resultado era 3,2 vezes superior ao observado atualmente. “Ou seja, uma queda acumulada de 21,9% no mesmo período de tempo”, disse o Ipea.

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IMPORTANTE: esse texto é baseado no “achismo”, não estudei nada de economia, ou seja, pode estar com uma quantidade considerável de erros, ainda mais conceituais. Não gosto de escrever esse tipo de texto assim, não coloco nada novo, mas é que é não me segurei porque eu realmente não sei em que mundo vivem os liberais.

A pesquisa do IPEA é mais uma constatação da falência do Brasil em criar condições de desenvolvimento que integrem a sociedade em uma cadeia de produção dinâmica e que movimente entre a população a renda gerada e impulsione o desenvolvimento regional.

Na agricultura, podemos pensar na reforma agrária. Tão defendida pela esquerda, feita de forma inteligente, com incentivos ao produtor é a “coisa” mais capitalista - e correta - a se fazer no campo. O latifúndio é contrário à produção. Tal política atravancada por nossa bancada ruralista, da nobre senadora Kátia Abreu (aperta aqui) só atrasa o país.

A centralização foi necessária para alavancar o processo de industrialização do país e não ficarmos nos surtos industriais da República Velha. O eixo RJ-SP era o local mais apropriado para esse processo por sua importância política, quantidade populacional e condições econômicas (lembrem que quem estava sentado na grana era o pessoal do café). No Rio e em São Paulo que Getúlio concentrou os esforços na modernização e construção de um parque industrial, com a inauguração, por exemplo, da Companhia Siderúrgica Nacional e da Fábrica Nacional de Motores.

O Brasil já atravessou esse momento de “construção” e se consolidou como uma das maiores economias do mundo. Claro que temos uma matriz produtiva diversificada, mas ainda existe a dependência da exportação de commodities, nossa balança comercial não suporta mais isso, nesse semestre teve superávit 42,7% menor do que no mesmo período do ano passado, petróleo e derivados representando 12% das exportações. (“‘O petróleo contribuiu com 27,2% do crescimento das exportações no primeiro semestre de 2010, em comparação com o primeiro de 2009. Com o petróleo, as exportações totais cresceram 27,5%. Sem ele teriam crescido 20,8%’, diz à coluna Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex. (...) a balança comercial brasileira está dependendo cada vez mais de um produto que gera mais riqueza onde é consumido, lá fora, do que onde é extraído. Sei que há a exportação de derivados, que pode aumentar, mas também eles são todos gerados em refinarias, uma parte atende ao mercado interno, mas a outra segue para os portos a caminho de países onde vão, aí sim, gerar impostos e riquezas.” – O Estado de S. Paulo, 12/08/2010)

Os investimentos do Estado têm sido recordes, dinheiro para pesquisa não falta mais, sendo assim, é preciso integração mais forte entre universidades, escolas técnicas e iniciativa privada na produção de novas tecnologias e novos centros de produção. Peguemos um exemplo: ano passado, em Porto Alegre, foi inaugurada uma sede do CEITEC, empresa pública federal que produz chips de alta tecnologia. Quando o RS tiver um pólo integrando empresas privadas, empresas como o CEITEC, universidades e escolas técnicas estaremos em outro estágio de desenvolvimento industrial.

Precisamos descentralizar e centralizar. Descentralizar a produção pelo país para diversificar e alargar a produção, buscando vocações regionais, como os pólos calçadista e moveleiro no RS. Centralizar na construção de pólos fortes de produção inovadora e que tragam novas oportunidades de geração de emprego e atração de capitais.Tais investimentos serão insuficientes enquanto não tivermos incentivos que modifiquem a espetacular burocracia que sufoca o país, reformas de rodovias, novas ferrovias e portos decentes para o escoamento de produtos.


Imagem:IPEA-gráfico de distribuição de renda no Brasil comparando a variação do índice de Gini por região de 1920 a 2007