Quadro de distribuição de renda não muda desde 1970, diz Ipea
País interrompeu processo de concentração de riquezas, mas desigualdade não diminuiu nos últimos 40 anos
As políticas públicas de desconcentração produtiva e descentralização dos gastos e investimentos públicos dos últimos 40 anos não foram suficientes para mudar de forma significativa o quadro da distribuição de renda do Brasil. É o que conclui o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em comunicado divulgado nesta quinta-feira.
Com base no índice de Gini - que avalia a distribuição de renda, sendo 0 a distribuição ideal e 1 a maior concentração -, o Ipea constatou que o Brasil interrompeu um processo de concentração de renda, iniciado em 1920, mas, desde 1970, o quadro pouco se alterou em todo o País.
“No auge do ciclo de industrialização, por exemplo, o País registrou forte tendência à concentração da produção em poucos e contidos espaços do território nacional”, apontou o Ipea. Entre 1920 e 1970, o índice de Gini saltou de 0,65 para 0,84 em todo País, enquanto, na avaliação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita o índice saltou de 0,37 em 1920 para 0,49 em 1970.
A partir da década de 1970, avalia o Ipea, a evolução acelerada da concentração de renda foi interrompida, mas o quadro não mudou até 2007. “Esta segunda fase da integração dos municípios na participação do Produto Interno Bruto brasileiro manteve congelado o grau de desigualdade territorial dos PIBs municipais no elevado coeficiente de Gini de 0,86 entre 1970 e 2007, última informação oficial disponível.”
Para o índice de Gini dos PIBs municipais per capita, por sua vez, houve queda de 14,3% entre 1970 (0,49) e 2007 (0,42).
Regiões
A região Sudeste responde pela maior concentração de renda no País, com índice de Gini de 0,88 em 2007. A região, no entanto, é a única que apresenta processo de estabilidade no índice. Em 1970, o indicador estava em 0,89.
A região Sul, por sua vez, tem a menor concentração de renda, com Gini de 0,78. No entanto, o índice piorou nos últimos 40 anos, quando estava em 0,70.
“O índice de Gini decresceu 1,3% na região Sudeste (de 0,90 para 0,89), enquanto subiu 7,2% no Centro-Oeste (de 0,79, para 0,85), 11,5% no Sul (de 0,71 para 0,79), 3,5% no Nordeste (de 0,77 para 0,80) e 4,7% no Norte (de 0,76 para 0,80)”, completou o Ipea.
Segundo o levantamento, a concentração de renda aumentou nas pequenas cidades do País, com o índice subindo 18% entre 1920 e 1950, e mais 6,8% entre 1970 e 2007. “Os grandes municípios brasileiros registraram aumento acumulado de 10,8% entre 1920 e 1970 e queda de 9,8% entre 1970 e 2007”, comparou.
Em 1920, os grandes municípios tinham índice de Gini 48% maior que os pequenos, mas, em 2007, o indicador foi apenas 17,5% superior.
Mais ricos
O Ipea mostra que, em 2007, 1% dos municípios mais ricos do Brasil tinham PIB médio 3,3 vezes superior à média nacional. O número é três vezes maior que o observado em 1920, quando os PIBs dos ricos era 1,1 vez maior que a média nacional.
Na outra ponta da tabela, os 60% municípios mais pobres têm PIB equivalente a 2,5% da média nacional. Em 1920, o resultado era 3,2 vezes superior ao observado atualmente. “Ou seja, uma queda acumulada de 21,9% no mesmo período de tempo”, disse o Ipea.
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IMPORTANTE: esse texto é baseado no “achismo”, não estudei nada de economia, ou seja, pode estar com uma quantidade considerável de erros, ainda mais conceituais. Não gosto de escrever esse tipo de texto assim, não coloco nada novo, mas é que é não me segurei porque eu realmente não sei em que mundo vivem os liberais.
A pesquisa do IPEA é mais uma constatação da falência do Brasil em criar condições de desenvolvimento que integrem a sociedade em uma cadeia de produção dinâmica e que movimente entre a população a renda gerada e impulsione o desenvolvimento regional.
Na agricultura, podemos pensar na reforma agrária. Tão defendida pela esquerda, feita de forma inteligente, com incentivos ao produtor é a “coisa” mais capitalista - e correta - a se fazer no campo. O latifúndio é contrário à produção. Tal política atravancada por nossa bancada ruralista, da nobre senadora Kátia Abreu (aperta aqui) só atrasa o país.
A centralização foi necessária para alavancar o processo de industrialização do país e não ficarmos nos surtos industriais da República Velha. O eixo RJ-SP era o local mais apropriado para esse processo por sua importância política, quantidade populacional e condições econômicas (lembrem que quem estava sentado na grana era o pessoal do café). No Rio e em São Paulo que Getúlio concentrou os esforços na modernização e construção de um parque industrial, com a inauguração, por exemplo, da Companhia Siderúrgica Nacional e da Fábrica Nacional de Motores.
O Brasil já atravessou esse momento de “construção” e se consolidou como uma das maiores economias do mundo. Claro que temos uma matriz produtiva diversificada, mas ainda existe a dependência da exportação de commodities, nossa balança comercial não suporta mais isso, nesse semestre teve superávit 42,7% menor do que no mesmo período do ano passado, petróleo e derivados representando 12% das exportações. (“‘O petróleo contribuiu com 27,2% do crescimento das exportações no primeiro semestre de 2010, em comparação com o primeiro de 2009. Com o petróleo, as exportações totais cresceram 27,5%. Sem ele teriam crescido 20,8%’, diz à coluna Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex. (...) a balança comercial brasileira está dependendo cada vez mais de um produto que gera mais riqueza onde é consumido, lá fora, do que onde é extraído. Sei que há a exportação de derivados, que pode aumentar, mas também eles são todos gerados em refinarias, uma parte atende ao mercado interno, mas a outra segue para os portos a caminho de países onde vão, aí sim, gerar impostos e riquezas.” – O Estado de S. Paulo, 12/08/2010)
Os investimentos do Estado têm sido recordes, dinheiro para pesquisa não falta mais, sendo assim, é preciso integração mais forte entre universidades, escolas técnicas e iniciativa privada na produção de novas tecnologias e novos centros de produção. Peguemos um exemplo: ano passado, em Porto Alegre, foi inaugurada uma sede do CEITEC, empresa pública federal que produz chips de alta tecnologia. Quando o RS tiver um pólo integrando empresas privadas, empresas como o CEITEC, universidades e escolas técnicas estaremos em outro estágio de desenvolvimento industrial.
Precisamos descentralizar e centralizar. Descentralizar a produção pelo país para diversificar e alargar a produção, buscando vocações regionais, como os pólos calçadista e moveleiro no RS. Centralizar na construção de pólos fortes de produção inovadora e que tragam novas oportunidades de geração de emprego e atração de capitais.Tais investimentos serão insuficientes enquanto não tivermos incentivos que modifiquem a espetacular burocracia que sufoca o país, reformas de rodovias, novas ferrovias e portos decentes para o escoamento de produtos.
Imagem:IPEA-gráfico de distribuição de renda no Brasil comparando a variação do índice de Gini por região de 1920 a 2007
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