quarta-feira, 28 de julho de 2010

E fez-se a luz sob os céus da Catalunha


Finalmente!

Não consigo entender (fora os lucros do evento) como a Espanha consegue organizar um festival gigantesco em celebração a um santo católico para legitimar a tortura de animais com a corrida dos touros, além das touradas em si.

O argumento dos favoráveis às touradas, de que é “cultural”, é muito complicado. Até que limite vai tal argumento? Pode legitimar mutilação genital feminina, escravidão e assim por diante. Porque os touros merecem menos consideração do que se no lugar dele estivesse uma pessoa? Dizer, que “as pessoas são livres ou não para ir às touradas” também não cabe em um Estado Democrático de Direito.

O Brasil saiu na frente, desde 2007 proibimos a Farra do Boi em Santa Catarina

Do G1:

O Parlamento catalão aprovou nesta quarta-feira (28) com 68 votos a favor, 55 contra e 9 abstenções o decreto de proteção dos animais, que implica a proibição das touradas nesta próspera região do nordeste da Espanha, a partir de 2012.

Depois que os deputados conservadores do Partido Popular (PP, oposição) e do grupo Ciutadans anunciaram seu voto contra a proibição das touradas, a principal incógnita se centrava nos que fariam os legisladores do Partido Socialista da Catalunha (PSC) e os nacionalistas da Convergencia i Unió, aos quais os partidos deram liberdade de voto.

Os admiradores das touradas defendiam uma tradição cultural enquanto que os adversários reclamavam o fim da tortura contra os animais.

"As touradas são um espetáculo da tortura", afirmou o porta-voz do grupo verde Iniciativa Per Catalunya-Els Verds (ICV-EUIA), Francesc Pané. Para a organização AnimaNaturalis trata-se de um primeiro passo para a abolição das touradas em todo o mundo.

A atriz francesa Brigitte Bardot, famosa por sua defesa dos direitos dos animais, comemorou a decisão.

"É uma vitória da democracia sobre os lobbies taurinos. Uma vitória da dignidade sobre a crueldade. A tourada é de um sadismo incrível. Já não estamos nos jogos circenses e é necessário pôr um fim imediato a esta tortura animal", afirmou em um comunicado.

Esta virou uma "questão política" na região onde "a ideia é extinguir tudo o que for espanhol", clamava nesta terça-feira o editor do diário madrileno "El Mundo".

Esse foi um tema recorrente nos últimos dias na imprensa conservadora, que via na possível proibição uma vontade de revanche dos políticos catalães, depois de uma recente decisão do Tribunal Constitucional que retirou certos aspectos do estatuto de autonomia da região.

A votação aconteceu num contexto complicado para o setor "taurino" na Espanha, que gera cerca de 40 mil empregos e bilhões de euros por ano, e que vem sentindo efeitos negativos desde 2009 por causa da crise econômica.

Do The Guardian:

"It is the worst attack on culture since our transition to democracy," said the Catalan poet Pere Gimferrer.

While some mourned the loss of a cultural jewel, the vote was hailed by animals rights campaigners worldwide. Ricky Gervais and Pamela Anderson were among the 140,000 who signed an international petition to the Catalan parliament.

"It sickens me to know that people are still paying money to see an animal suffering in such a horrific way," Gervais said before the vote. About 13,500 fighting bulls die in Spain every year – many in bullfights funded by local authorities who are estimated to pay out up to €550m (£457m) in subsidies.

In Spain, critics pointed to dark, if barely-disguised, political motives. Bullfight fans claimed many Catalan nationalist deputies had voted out of spite, because the fighting bull is an emblem of Spain – where it is known as the "national fiesta" – rather than of Catalonia.

The local El Periódico newspaper reported that several nationalist deputies had decided to back the ban only after Spain's constitutional court struck down parts of the region's 2006 autonomy charter earlier this month. At least 430,000 people, or 6% of all Catalans, protested on 10 July in Barcelona against the court's decision ,which declared Catalonia was not legally a nation.

Bullfight campaigners said the ban would cost €300m in lost revenues, and argue that the fight was an art form, rather than a cruel bloodsport.

"This is dictatorship," the Catalan bullfighter Serafín Marín said. "It is not a cruel show. It is a show that creates art: where you get feelings and a fight between a bull and person, where the person or the bull can lose their life."

Others saw a sinister attack on people's freedom to choose their own pastimes. "It is an attack on liberty," said Fernando Masedo, president of the International Federation of Bullfighting Schools, where children and youths learn how to face an angry bull. "People are free to go or not go to the bullring."

Outras imagens do The Boston Globe sobre o último Festival de San Fermín aqui

2 comentários:

  1. Do mesmo modo com que a sociedade passou a abominar a escravidão e a tortura, no século XIX, acredito que no século XXI passaremos por uma espécie de epifania, nos dando conta de que devemos respeitar os animais e a natureza.
    E essa realidade já pode ser verificada no surgimento de diversas ONG's destinadas à proteção ambiental nas últimas décadas , na realização de Conferências destinadas a debater sobre meio-ambiente - como a ECO92 - e também na recente preocupação da opinião pública internacional em relação ao aquecimento global.
    Acredito que a proibição das touradas é mais um passo em direção a esse caminho.

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  2. Concordo contigo.
    Como tu colocaste ao comparar os séculos, acredito que é um processo de aplicação da racionalidade que vêm sendo construído.
    Os argumentos das touradas me parecem tão fracos, tão irracionais, que a contra-argumentação não é difícil. 13.500 touros morrendo por ano pra quê? Pra um espetáculo ao melhor estilo gladiador pra satisfazer a gana de ver sangue. Me parece absurdo por demais.

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