domingo, 8 de agosto de 2010

Criança, a alma do negócio

Foi apresentada pela advogada Isabella Henriques, coordenadora geral do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana uma síntese do documentário Criança, a alma do negócio durante o II Congresso de Direito de Família do Mercosul, organizado pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família. Posto aqui a primeira parte do documentário que mostra uma realidade assustadora perpetrada por uma indústria bilionária, infantilizante (no pior sentido da palavra, porque o que tal realidade faz é retirar a infância das crianças) e imbecilizante. É preciso estômago forte para assistir a certas propagandas.



O papo de que o próprio mercado, através do CONAR – órgão classista formado e financiado pelos interessados nesse mercado- pode regular a publicidade é piada. Os defensores deste tipo de regulação fecham os olhos para as legislações de países de primeiro mundo sobre o tema:

Suécia: proibida publicidade na TV dirigida a crianças menores de 12 anos antes das 12h

Inglaterra: proibida publicidade de alimentos com alto teor de gordura, açúcar e sal dentro e durante a programação de TV para público menor de 16 anos

EUA: limite de 10 minutos e 30 segundos de publicidade por hora nos finais de semana, 12 minutos por hora nos dias de semana. Proibido o merchandising testemunhal

Alemanha: programas infantis não podem ser interrompidos por publicidade

Dinamarca: proibida qualquer publicidade durante programas infantis, e ainda, 5 minutos antes e depois

Alguns dados que aparecem ao longo do filme:

-Bastam apenas 30 segundos para uma marca influenciar uma criança (Associação Dietética Norte Americana)

-80% da influência de compra dentro de uma casa vem das crianças (Pesquisa Intersciente outubro-2003)

-A criança brasileira é a que mais assiste TV no mundo (IBGE)

-O número de jovens que têm a primeira relação sexual aos 15 anos aumentou de 15% para 32% (O Globo)

-80% da publicidade de alimentos dirigidas às crianças são de alimentos: calóricos, com alto teor de açúcar, com alto teor de gordura, pobres em nutrientes

-O mercado infantil no Brasil movimenta 130 bilhões de reais por ano (Revista Exame 2004)




P.S.: e o imprevisível com latas assustadoras, bife de soja, panqueca e fotos de sono foi o melhor.

É uma idade excessivamente alta pra mim


Mais uma vez pego uma entrevista do Autores e Livros, Bruno Dorigatti e Ramon Mello entrevistam Ferrerira Gullar para o Saraiva Conteúdo, artigo completo aqui

E os 80 anos, Gullar?

“Não penso nisso, estou vivendo. Esse negócio de 80 anos, é o pessoal que vive falando, não estou preocupado com isso, nem acredito que eu tenho 80 anos. Isso pra mim é um absurdo!” Toca o telefone na casa do poeta. Ele se levanta, sai do quadro da filmagem, e a caminho do aparelho conclui: “É uma idade excessivamente alta pra mim.”

Acredito que Gullar faz uma avaliação muito sensata sobre o Concretismo. Foi necessário para mudanças na poesia brasileira, mas a importância da poesia concreta - me parece - não deve-se às suas próprias criações, mas a sua influência posterior, como aparecerá em Caetano Veloso e Arnaldo Antunes.




Considerações Iniciais - Política II - Anistia

"A História é vital para a formação da cidadania porque nos mostra que para compreender o que está acontecendo no presente é preciso entender quais foram os caminhos percorridos pela sociedade."

Boris Fausto


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Poderia ter posto esse post na condições Iniciais - Direito, devido ao grande debate acerca da interpretação da Lei de Anistia de 1979, mas achei melhor categorizá-lo em Considerações Iniciais - Política pelo forte contexto político do processo de abertura do Regime de 64.

Coloco aqui partes de artigos que considero importantes para um inicial entendimento sobre o tema.

“A aplicação da Lei da Anistia, de 1979, é um exemplo privilegiado das tensões recorrentes entre o Direito e a política. É fato que, no âmbito da criação das normas, as relações entre o Direito e a política são insuprimíveis, e isso leva a alguns conceberem a lei como um acordo político de perdão tanto aos perseguidos quanto aos perseguidores.

O Direito tem refutado o esquecimento para os crimes de tortura, pois: tortura não constitui crime político; a teoria e a dogmática jurídicas da conectividade dos delitos também não concedem espaço para anistiar tais crimes; aspectos políticos que não estejam explícitos na lei são irrelevantes na aplicação do Direito sob a ótica do princípio da independência do juiz; a melhor tradição ética desde Nuremberg recusa a prescritibilidade e a anistia a crimes contra a Humanidade; a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos — à qual soberanamente aderimos e onde hoje o Brasil é réu — não admite "autoanistia".

Terá o Direito um papel civilizatório capaz de promover o que há de melhor na política: as garantias para as liberdades públicas presentes e futuras, contra todas as formas de autoritarismos, de esquerda ou de direita?” (Tortura não tem anistia– Paulo Abrão)

“Por isso, nas rupturas com os regimes autoritários, para sinalizar ao futuro a idéia da "não-repetição", torna-se obrigatória a implementação de uma justiça de transição. Conceituada pela ONU enquanto um conjunto de mecanismos hábeis para tratar o legado de violência do regime autoritário, seus elementos centrais são a verdade e memória (conhecimento dos fatos e resgate da história), a reparação (imperativo dever do Estado de indenizar os perseguidos políticos), o restabelecimento pleno do preceito da justiça e do devido processo legal (direito da sociedade em processar e responsabilizar aqueles que romperam com a legalidade e violaram os direitos de cidadania cometendo crimes contra a Humanidade) e a reforma das instituições (vocacionar os órgãos de segurança para a vida democrática).” (Anistia e Democracia – Paulo Abrão e Tarso Genro)

“A justiça de transição busca, em última análise, com a realização de suas quatro dimensões, a garantia do (r)estabelecimento das relações democráticas, de forma que todas as pessoas possam participar sem qualquer melindre dos processos de interação social. O foco do reconhecimento, nos casos de transições políticas, está voltado para aqueles cidadãos que foram perseguidos ao longo de um regime de exceção e que perderam suas condições de participação na vida social. Reconhece-se, portanto, os equívocos provocados pela ação autoritária do Estado, bem como a legitimidade da resistência dos opositores ao regime de exceção.” (A incompletude da transição política brasileira e seus reflexos na cultura jurídica contemporânea: ainda existem perseguidos políticos no Brasil? – Lara Caroline Miranda e Roberta Camineiro Baggio)

Trecho de crônica de Marcos Rolim:

“Acompanhei com atenção a sessão do STF sobre o pleito da OAB a respeito da Lei da Anistia. A lei, como se sabe, nunca mencionou crimes como a tortura. Ela perdoou os "crimes políticos e conexos", ponto. A pergunta, então, era: a tortura, o estupro, o assassinato de presos, a ocultação de cadáveres são crimes "conexos"? Pois o STF, por 7 votos a 2, disse que sim, que estes crimes estão cobertos pela anistia. Bem, não sei em que mundo vivem os ministros do Supremo, mas, no planeta Terra, tais delitos não são políticos ou "conexos".

O mais impressionante não foi o resultado, mas a linha de argumentação empregada. Por ela, a anistia representou uma "ampla negociação" entre governo e oposição na época. A hipocrisia tem lá suas regras e se sabe que rende homenagens à virtude. Natural, então, que os ministros afirmem sua "repulsa" à tortura no exato momento em que sepultam a possibilidade de processar torturadores. A mentira, entretanto, precisa ser chamada pelo seu nome. A Lei da Anistia não foi o resultado de negociação alguma. Paulo Sérgio Pinheiro - ex-Secretário de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique - lembra que em 79, pouco antes da votação no Congresso, as oposições organizaram o "Dia Nacional de Repúdio ao Projeto de Anistia do governo". Em São Paulo, a OAB realizou ato público para repudiar a auto-anistia em curso. E como foi o resultado da votação no Congresso? A lei foi aprovada com 206 votos da Arena, o partido da ditadura. O MDB votou maciçamente contra o projeto com 201 votos (!). Este foi o "ambiente de ampla negociação" ao qual fizeram referência os ministros do STF, ponderação logo referendada por grande parte da mídia.”

Suite no. 1

Já que a Helena gostou tanto da Suite no. 1, coloco aqui a versão by Yo-Yo Ma, com direito a imagens do Salvador Dalí

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Porque é Agosto


e porque já está mais do que na hora de começar a colocar literatura aqui (por menor que seja este trecho)


E estamos na cidade

sob as nuvens e entre as águas azuis.

(...)

Onde escondeste o verde
clarão dos dias?




Imagem: La reproduction interdite, de Magritte

Poema: A vida bate, de Ferreira Gullar

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Robert Gupta: Música é remédio, música é sanidade

Robert Gupta, violinista Orquestra Filarmônica de Los Angeles, fala sobre a aula que ele deu uma vez a um músico brilhante e esquizofrênico -e o que ele aprendeu. Chamado ao palco mais tarde, Gupta toca sua transcrição do prelúdio da Suite No.1 para Violoncelo de Bach

So I just started playing. And I played the first movement of the Beethoven concerto. And as I played I understood that there was a profound change occuring in Nathaniel's eyes. It was as if he was in the grip of some invisible pharmaceutical, a chemical reaction, for which my playing the music was its catalyst. And Nathaniel's manic rage was transformed into understanding, a quiet curiosity and grace.

Link para trailer do filme que ele comenta sobre a história de Nathaniel Anthony Ayers Junior e Steve Lopez: O solista



domingo, 1 de agosto de 2010

Considerações Iniciais - Política I

Resolvi começar o Considerações Iniciais Política de uma forma nada teórica, para justamente mostrar que a Política está em tudo. Segundo a Wikipedia, que consultou o Houaiss, Política denomina arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; aplicação desta arte aos negócios internos da nação (política interna) ou aos negócios externos (política externa).

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo – Bertold Brecht

(Encontrei outra versão da citação de Brecht na internet com o final que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. Não sei se há realmente duas versões, por isso deixo as duas aqui.)

O longa de animação Lutas, com previsão de estreia para 2011, conta a história do Brasil de um modo diferente. O protagonista vive 600 anos em quatro fases: é um índio Tupinambá na chegada dos europeus; um líder da Revolta da Balaiada no Maranhão do século 19; um militante da luta armada contra a ditadura militar e, no futuro, em 2090, um jornalista em visita a um Rio de Janeiro alagado, com problemas de abastecimento de água. Selton Mello e Camila pitanga dão voz aos personagens principais. Direção de Luiz Bolognesi e Daniel Sampaio.

Mas os vídeos que coloco aqui não são propriamente do longa, mas dos extras que sairão no DVD


Grandes pensadores brasileiros, doutores em filosofia, psicologia, economia, história e sociologia, como Eduardo Gianneti, Olgária Mattos, Laura de Mello e Souza e Contardo Calligaris, ao lado de grandes protagonistas políticos, como Lula, Fernando Henrique Cardoso, Marina Silva e Soninha, e livres-pensadores egressos dos movimentos sociais, como Ferrez, Júnior do AfroReggae, João Pedro Stédile e Esmeralda Ortiz, analisam a realidade brasileira em pé de igualdade.

(Informações da TV Brasil, Do Estadão, do G1 e da Buriti Filmes)


Essa é a maneira como nós produzimos uma ideia de que não somos de fato a melhor coisa do mundo, mas esse país é especial. Essa ambiguidade, um pouco esquizofrênica que marca o discurso brasileiro. Ao mesmo tempo em que somos cronicamente inviáveis, somos deliciosamente felizes na nossa inviabilidade crônica. – Leandro Karnal


A escravidão deforma terrivelmente o modo de pensar do ser-humano. Se você não é dono nem do seu corpo, o que que você pode fazer para melhorar o seu futuro? – Eduardo Gianetti


Os americanos universalizaram o ensino fundamental na década de 90, do século XIX. O Brasil comemorou a universalização do ensino fundamental na década de 90 do século XX. Nós acumulamos um século de atraso num passo elementar da vida civilizada e ainda foi comemorado aqui. Não é uma coisa pra se comemorar, é uma coisa pra se morrer de vergonha. – Eduardo Gianetti


É um absurdo, por exemplo, os prédios do Brasil que ainda se constroem com elevador de serviço e elevador social. Isso é uma reprodução da sociedade escravocrata. A classe média brasileira aceita que uma pessoa te faça comida, que o alimento é uma coisa sagrada, mas não aceita que ela apareça em público no mesmo elevador contigo. Isso é uma estupidez, mas revela a natureza ideológica da classe dominante brasileira. - João Pedro Stédile


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